Luís Perdiz nasceu em Campinas/SP. Poeta, compositor e editor, coordena a revista eletrônica Poesia Primata com foco em literatura brasileira contemporânea.
Desejo de terra, seu livro mais recente, foi contemplado com a bolsa de Criação e Publicação Literária ProACSP. Com apresentação de Jorge Mautner e prefácio Claudio Willer, a obra retoma suas principais influências: o modernismo brasileiro, a tropicália, o surrealismo e a geração beat.
Os poemas a seguir foram selecionados da obra Desejo de terra (Primata / Patuá, 2019), disponível para aquisição neste link.
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Através dos sonhos sambamos cegos de tanto néctar. As raízes rugem anunciando o sol.
Telma Scherer é artista e professora do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas da UFSC, na área de literatura brasileira. Atuou como professora substituta no Centro de Artes da UDESC, na área da linguagem pictórica. Trabalhou no campo da literatura e da performance, realizando apresentações de poesia e oficinas, para diversas instituições, entre elas o SESC/SC, o SESC/RS, a Bienal do Mercosul e a Prefeitura de Porto Alegre. Publicou o romance “Lugares ogros” (Caiaponte, 2019), o livro de artista “Entre o vento e o peso da página” (Medusa, 2018), e cinco livros de poesia: “Desconjunto” (IEL, 2002), “Rumor da casa” (7 Letras, 2008), “Depois da água” (Nave, 2014), “O sono de Cronos” (Terra Redonda, 2019) e “Squirt” (Terra Redonda, 2019). É formada em Filosofia (UFRGS) e em Artes Visuais (UDESC), com mestrado (UFRGS) e doutorado (UFSC) em Literatura, sobre a obra de Ricardo Aleixo, com período sanduíche na UPORTO, Portugal. Tem pesquisa na área da poesia expandida e da performance, bem como do contágio entre modos de escrita em literatura e artes visuais. Realizou pós-doutoramento no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, linha de Processos Artísticos Contemporâneos.
Os poemas a seguir foram selecionados da obra “Squirt” (Terra Redonda, 2019).
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às vezes, uma fogueira aprofunda o vento. quando se está a sós com os caderninhos é que se percebe o quanto uma fogueira rasga o dia de pleno alvorecer. seja no movimento dos sons, seja nos ocos de alvoroços. às vezes, uma fogueira se adensa de seu não ser. é de quases, de nadas, de coisinhas finas e à toas. às vezes, é no grau de uma fogueira assim, apagada, em plena luz do olhar, que se percebe que as varandas promovem a passagem dos rapazes. e que eles vão roubar o doce de dentro das madeiras, dos móveis, e subornam mamadeiras. uma fogueira percebe que é tonto aquele que coloca galhos e galhos desnecessários no vão do dia. às vezes, uma fogueira faz besteiras, porque não quer dizer o que ela é: verdade tanto para dias quentes quanto para noites e para quando a primavera se esquece de chegar. e nada disso tem a ver com as pedras ou com as necessidades. uma fogueira venera qualquer chão: e é no miudinho da terra batida que ela abate mais uma estrela. uma fogueira aprofunda o vento porque ele não cessa de se esquecer. ela rebate as críticas com seu sabor de brisa. uma fogueira sabe, sim, aprofundar o vento. por isso, se apaga sozinha ao contato do seu ímpeto, e se alastra pelas margens, e se engasga no seu próprio squirt.
Nascida em São Paulo em 1987, Leticia escreveu o primeiro livro aos 9 anos. Foi publicação artesanal independente: capa de papel camurça, folhas dobradas ao meio e costura de fita de cetim. Dentro, poesias sobre grilos e cigarras. Anos mais tarde, as explorações de quintal a levaram a investigar a criança em si: o seu mundo interno — por meio das pesquisas em educação e psicologia – e a sua linguagem essencial — a poesia —, tendo frequentado, em 2019, o Curso livre de Preparação do Escritor (CLIPE), organizado pela Casa das Rosas. Publicou pela Editora Urutau em 2020 o livro “Ré”, materializando esse processo de ascensão à infância.
Os poemas a seguir foram selecionados da obra “Ré” (Urutau, 2020).
GEOGRAFIA DOS SABORES
a vida se aprende antes pela língua
na ponta o doce delicado e pujante o mamilo e o leite
língua adentro o salgado a gana por tirar os véus
mais a fundo a acidez perceber que nem sempre, nem tudo
no fim o amargo a morte o não
e lá no côncavo onde fica a saliva e o que faz salivar umami
Matheus Guménin Barreto (1992) é poeta e tradutor mato-grossense, um dos editores da revista Ruído Manifesto. É autor dos livros A máquina de carregar nadas (7Letras, 2017), Poemas em torno do chão & Primeiros poemas (Carlini & Caniato, 2018) e Mesmo que seja noite (Corsário-Satã, 2020). Doutorando da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Leipzig na área de Língua e Literatura Alemãs – subárea tradução -, estudou também na Universidade de Heidelberg. Teve poemas seus traduzidos para o inglês, o espanhol e o catalão; publicados em revistas no Brasil, na Espanha e em Portugal; e integrou o Printemps Littéraire Brésilien 2018 na França e na Bélgica a convite da Universidade Sorbonne. Publicou em periódicos ou em livros traduções de Bertolt Brecht, Ingeborg Bachmann, Johannes Bobrowski, Nelly Sachs, Paul Celan, Peter Waterhouse, Rainer Maria Rilke e outros. Entre os cursos que ministra esporadicamente está o “Verso vivo: introdução ao verso livre e ao verso fixo de Shakespeare a Criolo”.
Os poemas a seguir foram selecionados do seu livro Mesmo que seja noite (Corsário-Satã, 2020), disponível para compra neste link.
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o mapa do corpo sob as mãos desenhando itinerários bruscos mornos contornando bocas que não existem, mas que existirão pés que não andaram, mas andarão sexos que não se apontaram mas que se apontam, agudos, sob o toque devagar como o encontro de um trópico último com um último meridiano
os olhos nublados de algo que não se adivinha
o homem tem o homem nas mãos e as mãos seguem seu cego itinerário provisório apagado sempre pelo toque próximo e sombra e esquecimento – apagado como a praia e o vento que a inaugura
Michaela v. Schmaedel nasceu e mora em São Paulo. É jornalista e poeta, autora do livro Coração Cansado (Penalux, 2020), lançado em junho deste ano. Para 2021, prepara o livro Quênia – poemas de viagem, que sairá pela Cas’a Edições.
Os poemas a seguir foram selecionados da obra Coração Cansado (Penalux, 2020).
VISÃO
Te encontrar numa praia de areia muito branca e mar muito azul. Pegar os teus dois olhinhos marrons e colocá-los num vidrinho em cima das pedras brancas da encosta. Ficar ali a ver o mar e a olhar os teus dois olhinhos e a lembrar que nem tudo o que está posto no mundo é para se pegar com as mãos.