Marianna Perna: O livros dos espelhos (2023)

Marianna Perna (@dasvozespoesia) é poeta, performer, historiadora, mestre em filosofia, produtora cultural e pós graduanda em Psicologia Transpessoal. Fundadora da Casa Urânia, espaço multiartístico & terapêutico em São Paulo. Acaba de lançar seu segundo livro-disco de poesia autoral, O livro dos espelhos (Selo Auroras, Penalux, 2023). Ativa na cena paulistana como escritora & poeta desde 2015, com seu primeiro livro-disco autoral, A Cerimônia de Todas as Vozes (Urutau, 2018), estreou sua verve performática e musical e, desde então, vem se dedicando às intercessões multidisciplinares entre som, corpo e consciência, em um exercício de diálogo entre arte, ciência e o olhar terapêutico, com vias ao reencanto do ser: o resgate da sensibilidade, das ancestralidades e da espiritualidade.



Os poemas a seguir foram selecionados do livro “O livros dos espelhos” (Penalux, 2023).



QUANDO ESCREVO, UM CAVALO ESCALA MEU CORPO


Um corpo em devastação, casa em chamas reerguida sobre
ruínas postergadas.

Uma mulher que dança seu fim, move-se como?

Um sol de fim de tarde surge como prenúncio do novo,
que sempre vem.
Reflexos sem reflexo.

Como se dança o fim?
Como se mover dentro do tempo, que é
tudo e também o nada? Como se reinventa o sentido de pisar
sobre a terra; como se mantém os ossos coesos, firmes para ser
teto e base pro ser?

De tão quebrada, acho que a terra agora dorme.

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Marianna Perna: A Cerimônia de Todas as Vozes (2018)

Marianna é, de formação, historiadora e pesquisadora musical, mas também pesquisadora livre do corpo e da voz, com um especial apreço pela poesia, este lugar onde considera habitar toda a dimensão mágica e suas sempre infinitas e renováveis trilhas de volta à voz da alma. Deseja que os poemas possam trazer de volta nosso ser poético oculto e vibrante – re-encantá-lo pelo chamamento dos versos. A Cerimônia de Todas as Vozes (Urutau, 2018) é seu primeiro trabalho solo autoral, uma proposta de transpor as fronteiras de gêneros artísticos.

 

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro A Cerimônia de Todas as Vozes (Urutau, 2018).

 

 

A FEITICEIRA

 

Numa outra hora, vida
distante
que perdura
pela areia
reluz, me seduz.

Ainda vejo os olhos do tempo
vermelhos, congelados.

Sal e mais sal.

Em natureza profunda
lá onde não há chão,
mas se pisa em raízes
se reencontra a carne
de pura seda, eterna
vasta
em território escuro
e sem armadilhas.

Nas trevas, o amor brilha.

 

 

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