Guilherme Pavarin: o maquinário fantasma (2022)

Guilherme Pavarin nasceu em São Paulo em 1987. Estudou Letras na Universidade de São Paulo, onde faz mestrado em Literatura Brasileira.



Os poemas a seguir foram selecionados do seu primeiro livro o maquinário fantasma (Urutau, 2022).



CÂMARA ESCURA

Como a luz da estrela já morta,
cada coisa caminha
para o seu contrário.

O macaco se torna jaula.
Os frutos laivam as máquinas.
E os desertos clamam
línguas e dromedários.

Por isso, me diz o espectro,
não dê ao destino tanto gosto.
Quando pensar ter em mãos
sua caveira, o mais fulcral dilema
talvez lhe ocorra
de tantas prudências
ter preterido outros opostos.

É desse espanto
(em tropeços por litorais
os crepúsculos em riste)
que entendemos cada tendão
um sustentáculo de dois
ou mais eclipses.

Por isso cante.
De todas as artes,
alguma lhe será inútil
e com sorte sua ruína.

Apenas cante, ele assobia.
Cante, cante as fraturas
dessas túnicas de ossos.

Leia mais