Gustavo Berbel é formado em Ciências Sociais (FFLCH-USP), mestrando em Antropologia Social (PPGAS-USP) e pesquisador do Núcleo de Antropologia, Performance e Drama (NAPEDRA-USP). Fundou, junto com outros escritores, o coletivo Poesia Primata e lançou de forma independente o livreto Do canavial elétrico à metrópole (2015).
PALAVRAS LAVADAS DE ROXO
margeando o tietê sertanistas sangraram o solo
pintaram a cor forte – esse roxo avermelhado de suas vísceras
amigavelmente assassinando os kaingang
sepultando-os embaixo dos pés de cana-de-açúcar
(pois cada cristão tem sua cruz)
inútil falar
sobre terra de bandeira
solo de covardes desertores de guerra
que preferiram matar índios
(cordialmente)
como posso soltar grunhidos?
se na verde bifurcação pontiaguda
fundi-me com a terra roxa e acabei amordaçado
sendo mais uma artéria aberta no campo incomunicável
não há o que explicar sobre essas casas tortas de madeira
sobre o moinho enferrujado da vida rural
são chapas e fábricas de homens
cortes a laser
dobras metálicas
peças
minha certidão de nascimento:
um sítio no limiar de Vanglória
feito terra sou explorado
plantado pisado calado
sem poder falar