Claudinei Vieira: Olá, pequeno monstro do dia (2016)

Claudinei Vieira é autor de Desconcerto (contos, selo Demônio Negro, 2008), Yũrei, Caberê (poesia, editora Patuá, 2015), Olá, pequeno monstro do dia (poesia, editora Benfazeja, 2016), além de participação em várias antologias de contos e poesia. Organiza os Desconcertos de Poesia, em São Paulo.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Olá, pequeno monstro do dia (Benfazeja, 2016).

 

 

 

e se me fico assim
nessa espera doída de um abraço seu
dos que me acalentam
à borda do furacão
ou nessa angústia covarde
de que a ponta dos ossos de suas asas
arranhem minha alma já avariada

neste aguardo ansioso de sua língua fervente
a lamber meu corpo a me acalmar o sono
ou o medo pavor de que o bifurcado escaldante
queime arranque minha pele

e se me fico assim
com essas esperanças cegas
a me preparar para o pulo

 

PONTA DAS ASAS

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Natalia Barros: Nuvens Ornamentais (2016)

Natalia Barros é poeta, cantora e paisagista. Nasceu em Santos em 1963. Trabalha com a palavra de diversas maneiras; publicou os livros Caligrafias (Edital Proac, 2011) e Nuvens ornamentais (Selo Demônio Negro, 2016), compôs diversas canções para o grupo LUNI e para seu trabalho solo como cantora, fez entrevistas para a rádio (CCSP)  com poetas e artistas, além do programa T42 no portal de literatura CRONÓPIOS. É uma das curadoras do projeto: LANDSCAPES | improvisos de poesia e música.

 


foto: Jaques Faing

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Nuvens ornamentais (Selo Demônio Negro, 2016).

 

 

 

DESDE DENTRO DESDE SEMPRE

 

pulso
frequência
oscilação
fluxo
propagação
amplitude
vibração
fusão

a caixa torácica abriga,
no espaço compreendido
pela curvatura das costelas,
entre o osso esterno
e a coluna vertebral:

02 pulmões
01 coração
37 ossos
01 onda do mar

 

 

 

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Armando Freitas Filho: Anos 1990

Armando Freitas Filho nasceu em 1940 no Rio de Janeiro e estreou em 1963 com Palavras, editado por conta própria com ajuda do amigo José Guilherme Merquior. Escritor compulsivo, publicou e continua a publicar uma vasta obra poética, marcada pela  ampla imaginação e musicalidade em seus versos singularmente controlados. Dada a extensão e qualidade de seus livros, resolvemos dividi-los em uma série de postagens. Confira a primeira, referente aos livros dos anos 1960 e 1970, neste link e a segunda, referente aos livros dos anos 1980, neste link.

Para a publicação de hoje, selecionamos alguns dos nossos poemas preferidos de seus três livros lançados na década de 1990: Cabeça de homem (Nova Fronteira, 1991), Números anônimos (Nova Fronteira, 1994) e Duplo cego (Nova Fronteira, 1997).

 

 

poemas de Cabeça de homem (Nova Fronteira, 1991)

 

 

NU DE VERÃO SUBINDO A ESCADA

 

Os dias pegam fogo logo cedo
com o mar a um palmo
e a carvoaria das montanhas:
pedra bruta batendo forte
o tempo todo no azul
de um céu aberto a tudo.
A paisagem perde o fôlego
e cada hora que roda
é um degrau a mais
para o alto, um salto
de mercúrio na escada
que uma loura em falso
sobe, movida a oxigênio
ardendo mais que a outra
natural e desmaiada
porque por baixo, por dentro
o cabelo negro ferve
forçando e ferindo
com suas flores pretas
a carne clara
desde o carvão das raízes
até o ar livre da pele
até
que o mar e o céu
se encontrem decididos
depois de tanto ensaio
a fundo perdido no horizonte.

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Mariana Payno: As ilhas não têm saída (2017)

Mariana Payno nasceu em Ribeirão Preto em 1992 e, desde 2010, vive em São Paulo. O apreço pelas palavras a fez jornalista, um pouco escritora e quase linguista. As ilhas não têm saída é seu primeiro livro de poesia.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados da obra As ilhas não têm saída (Editora Primata, 2017), disponível para compra neste link.

 

 

NAUFRÁGIO

 

a gente sentia que
o seu lugar era perto do mar
e meu o calor das suas vísceras
doentes

deita seus olhos fechados sobre mim
consegue respirar o que restou?
deita fora o que não foi

embarca no tempo do náufrago

escuridão
passiva
arrancada
do colo das ondas

o mar não engole suas costas
mas quase
preferia morrer no mar?

a melancolia da água
a solidão das âncoras
o mapa dos polvos
o som surdo das algas
a anatomia das conchas no ouvido

minha última voz perdida
nas suas redes frouxas

você ouviu?

o seu lugar era perto do mar
e o que restou a gente deita fora
onde agora piso
às cegas
a fundo

afoga.

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Diogo Cardoso: Sem lugar a voz (2016)

Diogo Cardoso é bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo. Participou de diversos projetos literários, dentre eles o sarau Faça pArte, em parceria com o departamento de cultura de São Bernardo do Campo, Leitores itinerantes, sob curadoria de Tarso de Melo e foi um dos curadores do projeto Clarice Lispector:. Frequentou 
diversas oficinas literárias, dentre elas Tantas Letras, sob coordenação de Tarso de Melo, e de Criação poética, 
sob coordenação de Claudio Willer. Têm publicações em diversas revistas literárias, impressas e virtuais, dentre as quais Polichinello, Zunái, Mallarmargens e O Cacto. Atualmente, é integrante do coletivo Tantas Letras.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Sem lugar a voz (Dobradura Editorial, 2016).

 

 

 

 

OS FOGOS

 

 

minha voz grita
a distância que seus cabelos
cantam fogos ateados.

o grito bate nos cabelos,
voz de fogo ardendo púrpura em sua
boca que guarda esse meu grito oco.

longe.

o desespero queima as idades,
meu grito estancado no vento
onde seus cabelos deitam
carícias que minha voz guarda silêncios.
– seus cabelos de rosáceas mudas.

grito o desespero oblíquo de não tocar-me

os seus cabelos que não
me batem luzes líquidas
a sua boca que guarda
em mim o seu silêncio

– grito que seus cabelos em minha boca
sepultam

o que de ti me calo

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