Daniel Perroni Ratto é poeta, jornalista, músico e editor da Editora Algaroba. Pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA/USP, autor dos livros ‘Urbanas Poesias’ (Ed. Fiúza, 2000), ‘Marte mora em São Paulo’ (A Girafa/Escrituras, 2012), ‘Marmotas, amores e dois drinks flamejantes’ (Ed. Patuá, 2014), ‘VoZmecê’ (Ed. Patuá, 2016), ‘Alucinação’ (Algaroba, 2018), ‘Grinalda de um Poeta’ (Algaroba, 2021) e ‘Destemida Ferrabraz’ (Algaroba, 2025).

Os poemas a seguir foram selecionados do livro “Destemida Ferrabraz” (Algaroba, 2025).

DAS CINZAS, SANTAS PROFANAS
(Para Fernanda Montenegro)
É Admirável, neste Mundo Novo,
a resistência de antigas bruxas,
incríveis forças da natureza
eternizadas em cristais de fogo.
Para cada livro a 232.7 celsius,
para cada crime de pensamento,
haverá um de nós a combater,
a criar mais filosofia divergente.
A diversidade não será calada,
os rituais xamânicos continuarão
produzindo ligações etéreas
entre a práxis, a retórica e o universo.
E, graças ao Deus, ao Alienígena,
aos óvulos da maternidade
entre clones, cyborgs e igrejas
surgem novas Santas Profanas.
NO FOGO DE PAU-BRASIL
Estou me sentindo
como uma galinha
à cabidela.
Tudo dentro; pés,
miúdos, coração.
Não há fugidela.
Nem com reza na capela
escapei de ser escalpelado
e no caldo feito do próprio sangue,
vagarosamente cozinhado.
CALÇADÃO TEMPORAL
Sincronicidade nas energias
do pensamento
Coincidências aparentemente
soltas ao vento
Amizades e pessoas
passando
inter-relações de vários
acontecimentos
Mandarim nas alturas
das espadas do espadachim
Touradas espanholas
ou
kamikazes brasileiras
no sertão de Quixeramobim.
RECORRÊNCIAS
A Pauliceia Desvairada esvaiu-se
em garoas tóxicas integralistas
a Cidade Maravilhosa aviou-se
em bossas nostras milicianas.
A esperança na conta do repente,
do cordel, de uma vida palestina.
Salvaguardou o Brasil uma gente
rapadura, sem paúra, nordestina.