Vinicius de Moraes (1913-1980): Trajetória poética

Um dos grandes artistas brasileiros do século XX, Vinicius de Moraes produziu vasta obra nos campos da literatura, do teatro, do cinema e da música. Publicou os livros de poesia O caminho para a distância (1933), Forma e exegese (1935), Ariana, a mulher (1936), Novos poemas (1938), Cinco elegias (1943), Poemas, sonetos e baladas (1946), Pátria minha (1949), Antologia poética (1954), Livro de sonetos (1957), Novos poemas II (1959), O mergulhador (1968) e A arca de noé (1970).




Nesta publicação, selecionamos poemas de toda a sua trajetória poética, contemplando diferentes fases e estilos.


SONETO DE INTIMIDADE


Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.

Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.

Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve

Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.


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Simone Brantes: Quase todas as noites (2016)

Simone Brantes nasceu em Nova Friburgo e vive no Rio de Janeiro desde 1980. Publicou o livro Pastilhas brancas (7Letras, 1999). Teve poemas incluídos em antologias como Roteiro da poesia brasileira anos 90 (Global, 2011) e A poesia andando: treze poetas no Brasil (Cotovia, 2008). Seus poemas e traduções de poesia foram publicados em jornais e revistas como O Globo (Página Risco), Revista Piauí, Inimigo Rumor, Poesia Sempre, Polichinello, Action Poétique e Lyrikvännen.


foto: Caio Meira


Os poemas a seguir foram selecionados do livro Quase todas as noites (7Letras, 2016).




POTE

Você acha que sexo é isso:
três
ou quatro
posições
e executá-las?
Você quer
muito
muito mesmo
que eu goze?
Então vamos por partes –
não se vai com tanta sede ao pote –
Primeiro: fabricar a sede
Segundo: fabricar o pote
Terceiro: deixar que a água jorre

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Antonio Carlos Floriano: Post Provisório (2018)

Antonio Carlos Floriano nasceu em Itajaí, Santa Catarina, em 1961 e tem os seguintes livros de poesia publicados: Podre Flor (1988), Celacanto (1989), Cadernos do Japão (Massao Ohno, 1999), Poesia (2002) e Post Provisório (2018). Além destes, publicou livros na área de literatura infantil (Um Cavalo para Eduardo, Vento no Catavento e Crianças de todas as cores) e de fotografia (Carpintaria das Ribeiras do Rio Itajaí Açu e Retratos).




Os poemas a seguir foram selecionado do livro Post Provisório (Espelho D’Alma, 2018).




COMO SE APRISIONA UM RIO PARA SI



como se aprisiona um rio para si
não há moirões na água
arame para circular uma cidade

apenas um poço de nuvens
engolidos nos mergulhos
nas voltas infindáveis da geografia

onde encontrar o calor dos outonos
as sombras desvanecidas
a pouca cor dos trapiches adernados

como amarrar um navio fosse um bicho
segurá-lo na corrente contra o terral
se a noite se esconde na luz do farol

se a noite sussurra nas tralhas das redes
a solidão dos beliches sem ar
da tinta envenenada manchada de mar

que se tome um banho de água doce
para prender o rio sob a pele do rosto
se tirar das mãos as escamas das unhas

para se prender o rio na memória do poema
feito um navio na geografia da cidade
é preciso inventar um mapa no coração


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Natasha Felix: Use o alicate agora (2018)

Natasha Felix (1996-) nasceu em Santos. Vive em São Paulo e cursa Letras pela Universidade de São Paulo. É escritora, redatora e educadora. Seu livro de estreia, Use o Alicate Agora (Macondo, 2018) foi lançado em 2018 e a segunda tiragem pode ser adquirida no site oficial da editora. Tem textos publicados em revistas digitais e físicas.




Os poemas a seguir foram selecionados do livro Use o alicate agora
(Macondo, 2018).




EXERCÍCIOS



horas antes do voo 315, poltrona reclinável,
o céu colombiano.
j. arranca meus dedos fora um a um.
na cozinha, sequer pensávamos em despedidas.
j. pega o alicate digo pega o alicate agora na gaveta
isso é uma solução prática.
ele arranca meus dedos fora um a um
não sem antes lixar passar base nas unhas
remover cutículas, beijar as cabeças.
j. reúne meus dedos em conserva tampa em
segurança me confia o pote transparente antes do embarque.
não o levo ao aeroporto sou
uma mulher contemporânea.

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Leandro Rodrigues: Faz sol, mas eu grito (2018)



Leandro Rodrigues (1976) nasceu em Osasco, São Paulo. É Poeta e Professor de Literatura. Lançou em 2016 o seu primeiro livro: Aprendizagem Cinza (Ed.Patuá). Participou em 2017 da antologia Hiperconexões 3 (Ed. Patuá). Em 2018 lançou seu 2º livro: Faz Sol Mas Eu Grito (Ed. Patuá). Publicou poemas em vários sites e revistas de literatura do Brasil, Portugal, Espanha e Estados Unidos. Mantém seus escritos no blog [nauseaconcreta]



foto: Jesse Navarro


Os poemas a seguir foram selecionados do livro Faz Sol Mas Eu Grito (Patuá, 2018)





MEMÓRIA


Tantas vozes mortas ainda escorrem
Nessa umidade fria da parede

Uns passos intactos / calados no chão
Destroçados qual vermes inaudíveis

Poças dormentes que rangem
engrenagens tísicas de porcelana

bromélias que murcham
com sangue nas cavidades
&
brotam nesses rios fétidos
Usinas de fetos e espasmos

Gritos/ lamentos das galerias
cavando domados silêncios

das horas turvas de um relógio de sol
calcinado pela escuridão.


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