Marcelo Labes: Enclave (2018)

Marcelo Labes nasceu em Blumenau-SC, em 1984. É autor de Falações (EdiFurb, 2008), Porque sim não é resposta (Antítese, Hemisfério Sul, 2015), O filho da empregada (Antítese, Hemisfério Sul, 2016), Trapaça (Oito e Meio, 2016), Enclave (Patuá, 2018) e O poeta periférico (Edição do autor, 2018). Integrou a mostra Poesia Agora (edição carioca), em 2017. Tem poemas publicados em InComunidade, Mallarmagens, Literatura & Fechadura, Livre Opinião – Ideias em Debate, Ruído Manifesto, Enfermaria 6 e Revista Lavoura. Edita a revista eletrônica O poema do poeta, onde publica originais manuscritos, esboços e rabiscos de poetas e ficcionistas.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Enclave (Patuá, 2018).

 

 

VII.

 

loira dos pés à cabeça
até os pelos pubianos
desde a menarca
menstrua lama

e nela enterra
os seus
nela afoga
os seus
nela chafurdam
herdeiros de um
país que não existe

|enclave|

só quem acredita em herança
não se resigna diante
de tanta água oxigenada.

 

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Germano Quaresma: Mais cento e oito sonetos (2018)

Germano Quaresma nasceu em 12 de abril de 1964 em Caraguatatuba/SP. Com a morte precoce de seus pais, num acidente, mudou-se para Santos/SP, onde foi criado por um tio. Menino recluso, não tinha amigos que não seus livros e os personagens que habitavam. Adulto trabalhou na Companhia Brasileira de Alquimia. Escreve episodicamente e não aparece em público nem dá entrevistas, sendo sua atividade literária gerenciada por seu advogado Manoel Herzog.

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Mais cento e oito sonetos (Patuá, 2018).

 

 

SONETO COLONIZADO

 

Quando alguém morre eu pego e falo: RIP
Nas palestras espero o coffee break
Em todo lanche meu tem milk shake
Inda uso palm-top, token, bip.

Só compro de outlet, meu, não vê que
Sou top, paulistano, e que acepipe
Pra mim só fast food? No Sergipe,
No Rei da Carne de Sol, pedi steak.

Sou low profile, nem vou pra Miami,
Num texto forense eu li sáine dái
Mas tava escrito “sine die”, latim.

Vontade minha é bem gritar: I am
American! – Brazilian o carai! –
Só o que é do Isteites tem valor pra mim.

 

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Marianna Perna: A Cerimônia de Todas as Vozes (2018)

Marianna é, de formação, historiadora e pesquisadora musical, mas também pesquisadora livre do corpo e da voz, com um especial apreço pela poesia, este lugar onde considera habitar toda a dimensão mágica e suas sempre infinitas e renováveis trilhas de volta à voz da alma. Deseja que os poemas possam trazer de volta nosso ser poético oculto e vibrante – re-encantá-lo pelo chamamento dos versos. A Cerimônia de Todas as Vozes (Urutau, 2018) é seu primeiro trabalho solo autoral, uma proposta de transpor as fronteiras de gêneros artísticos.

 

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro A Cerimônia de Todas as Vozes (Urutau, 2018).

 

 

A FEITICEIRA

 

Numa outra hora, vida
distante
que perdura
pela areia
reluz, me seduz.

Ainda vejo os olhos do tempo
vermelhos, congelados.

Sal e mais sal.

Em natureza profunda
lá onde não há chão,
mas se pisa em raízes
se reencontra a carne
de pura seda, eterna
vasta
em território escuro
e sem armadilhas.

Nas trevas, o amor brilha.

 

 

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Ruy Proença: Caçambas (2015)

Ruy Proença nasceu em 9 de janeiro de 1957, na cidade de São Paulo. Participou de diversas antologias de poesia, entre as quais se destacam: Anthologie de la poésie brésilienne (Chandeigne, França, 1998), Pindorama: 30 poetas de Brasil (Revista Tsé-Tsé, nº 7/8, Argentina, 2000), Poesia brasileira do século XX: dos modernistas à actualidade (Antígona, Portugal, 2002), New Brazilian and American Poetry (Revista Rattapallax, nº 9, EUA, 2003), Antologia comentada da poesia brasileira do século 21 (Publifolha, 2006), Traçados diversos: uma antologia da poesia contemporânea (organização de Adilson Miguel, Scipione, 2009) e Roteiro da poesia brasileira: anos 80 (organização de Ricardo Vieira de Lima, Global, 2010). Traduziu Boris Vian: poemas e canções (coletânea da qual foi também organizador, Nankin, 2001), Isto é um poema que cura os peixes, de Jean-Pierre Siméon (Edições SM, 2007) e Histórias verídicas, de Paol Keineg (Dobra, 2014). É autor dos livros de poesia Pequenos séculos (Klaxon, 1985), A lua investirá com seus chifres (Giordano, 1996), Como um dia come o outro (Nankin, 1999), Visão do térreo (Editora 34, 2007), Caçambas (Editora 34, 2015) e dos poemas infantojuvenis de Coisas daqui (Edições SM, 2007).

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Caçambas (Editora 34, 2015).

 

 

ZONA DE CONFORTO

 

se você
viu um prego
em minha testa

e acha
que isso faz
todo o sentido

então viver
é menos perigoso
do que eu imaginava

vamos
pendure
um quadro

 

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Murilo Mendes: Poemas (1930)

Murilo Mendes, nasceu em Juiz de Fora em 1901 e faleceu em Lisboa em 1975. Um dos grandes poetas do século XX,  bebeu de fontes distintas como a proposta modernista brasileira, o catolicismo, o cubismo,  o surrealismo e o concretismo. Sua vasta produção artística inclui os livros de poesia: Poemas (1930), Bumba-meu-poeta (1930), História do Brasil (1933), Tempo e eternidade – com Jorge de Lima (1935), A poesia em pânico (1937), O Visionário (1941), As metamorfoses (1944), Mundo enigma (1945), Poesia liberdade (1947), Contemplação de Ouro Preto (1954), Tempo espanhol (1959), Siciliana (1959),  e Convergência (1970).

 

 

Realizaremos a retrospectiva de sua trajetória poética numa série de publicações. Nesta primeira, selecionamos poemas do seu livro de estreia  Poemas (Dias Cardoso, 1930).

 

 

CANÇÃO DO EXÍLIO

 

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam  gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!

 

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