Ana Paula Simonaci: voo (2018)

Ana Paula Simonaci nasceu em 1990. É curadora, pesquisadora e poeta. Formada como bibliotecária, é mestre e doutoranda em Memória Social pelo PPGMS – UNIRIO. Como coordenadora de literatura e biblioteca do SESC-Rio, é curadora de projetos culturais, como festivais, mostras, exposições literárias, seminários, entre outros.

Os poemas a seguir fazem parte do livro voo (2018), parceria das editoras Azouge e Circuito.

 

 

CANTO VII

 

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Roberto Piva: Abra os olhos e diga ah! (1975)

Roberto Piva (1937-210) é autor da plaquete Ode a Fernando Pessoa (Massao Ohno, 1961) e dos livros Paranóia (Massao Ohno, 1963), Piazzas (Massao Ohno, 1964), Abra os olhos e diga ah! (Massao Ohno, 1975), Coxas (Feira de Poesia, 1979), 20 Poemas com Brócoli ((Massao Ohno, 1981), Quizumba (Global, 1983) e Ciclones (Nankin, 1997), reunidos em três volumes pela editora Globo, sendo o último – Estranhos Sinais de Saturno – acompanhado de poemas inéditos. Marcada pelo experimentalismo, múltiplos diálogos e alta qualidade das imagens poéticas, sua obra é uma das mais intensas da poesia brasileira contemporânea.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados de Abra os olhos e diga ah! (Massao Ohno, 1975), terceiro livro do poeta. Confira a postagem sobre suas outras obras neste endereço.

 

 

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VISÃO ANTROPOLÓGICA DO CANTO DA JANELA
    PRISMADA EM GELÉIA-CORAÇÃO NO VINHO
    DE MARÇO (o mês mais terrível)
            novos animais de rapina
OS OLHOS DO MEU AMANTE OS OLHOS DO MEU AMANTE
              galáxias internas OLHOS LIBERDADE galáxias internas
    no fundo cor-de rosa do chocolate eu te respiro
                nas tripas só com os mortos & seus travesseiros de
           flores
                nas tripas extravagantes meu amor atrás das
vitrinas
                        só com os mortos o universo é um espirro
           no útero da maçã
                            tudo começa
                            a anoitecer
                        cheio de energia

 
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Orides Fontela: Alba (1983)

Orides Fontela, uma das mais importantes poetas contemporâneas brasileiras, nasceu em São João da Boa Vista (SP) no ano de 1940 e faleceu em Campos de Jordão (SP) em 1998. Mudou-se em 1967 para a capital paulista, onde cursou filosofia na Universidade de São Paulo. É autora dos livros de poesia Transposição (Instituto de Espanhol da USP, 1969), Helianto (Duas Cidades, 1973), Alba (Roswitha Kempf, 1983), Rosácea (Roswitha Kempf, 1986) e  Teia (Marco Zero, 1996). Sua obra foi reunida em 2015 pela editora Hedra, acrescida de poemas inéditos.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do seu terceiro livro Alba (Roswitha Kempf, 1983). Confira a postagem sobre suas outras obras neste endereço.

 

ALBA

 

I

Entra furtivamente
a luz
surpreende o sonho inda imerso
na carne.

II

Abrir os olhos.
Abri-los
como da primeira vez
– e a primeira vez
é sempre.

III

Toque
de um raio breve
e a violência das imagens
no tempo.

 

IV

Branco
sinal oferto
e a resposta do
sangue:
AGORA!

 

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William Soares dos Santos: Poemas da meia-noite (e do meio-dia) (2017)

William Soares dos Santos (1972), é carioca, professor da UFRJ e escritor. Dentre os seus trabalhos literários se destacam o livro de contos Um Amor e os livros de poesias Rarefeito e Poemas da meia-noite (e do meio-dia), livro ganhador do Prêmio PEN Clube do Brasil para livros de poesias publicados em 2017. Página do autor: http://williamsoaresdossantos.com.br.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Poemas da meia-noite (e do meio-dia) (Editora Moinhos, 2017).

 

 

OS ELEFANTES

 

Quem
defenderá a vida dos elefantes
quando a África sangrar?

Quem,
no meio da floresta adentro,
enfrentará a tormenta das noites
sem sono e dos dias sem lembrança?

Quem
preservará a memória dos elefantes?

Quem
ouvirá o seu canto inaudível e
fará revelar os antigos caminhos
pelos quais a matriarca da manada
guiaria seus filhos
ao antigo e derradeiro lugar
dos seus ancestrais?

Quem
chorará, como choram os elefantes,
diante do corpo sagrado da matriarca
a repousar em meio à relva que,
pouco a pouco, a resguarda
em seu irremediável
destino?

Quando
seremos como os elefantes
e arrancaremos de nós toda a
ganância, todo o ódio, toda a fúria
que nos faz infimamente pequenos
diante da grandeza,

infinita
grandeza,

dos elefantes?

 

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Thiago Scarlata

Thiago Scarlata (1989) é poeta, músico, escritor e criador/editor do Blog Literário Croqui. Teve poemas traduzidos para o espanhol, publicados em antologias e também nas Revistas Gueto, Escamandro, Mallarmagens, Monolito, Incomunidade, Janelas em Rotação, Poesia Brasileira Hoje, O poema do poeta, Poesia Avulsa, Literatura&Fechadura, Vero o Poema, Carlos Zemek, MOTUS, Jornal Correio Braziliense, Jornal RelevO, além de blogs literários. Foi finalista do PRÊMIO SESC DE LITERATURA 2016 e vencedor do CONCURSO MOTUS – MOVIMENTO LITERÁRIO DIGITAL 2017. É autor do livro de poesia Quando Não Olhamos o Relógio, Ele Faz o Que Quer Com o Tempo (Editora Multifoco, 2017) e prepara seu novo livro “Salobre”, que sairá pela Editora Urutau.

E-mail: [email protected] / [email protected].

 

 

FEIJOADA

 

trinta e seis horas ou mais

isso é o indicado

para tirar do porco

o que é do porco

 

um dia e meio

intermitentemente

trocando água

 

quanto mais dessalgado

menos aquele pedaço de orelha

ofende o paladar

e quanto mais cozido

menos incomum

 

a colher de pau

meneia em caldo denso,

pedaçudo,

enquanto o bacon

enruga na frigideira

 

o que ocorre durante

a pressão da panela

é o êxodo

da alma do ex-animal

disparada no vapor frenético

daquela chaminé

 

depois da tormenta,

abrimos a panela

e o que era pé, rabo,

língua e lombo,

deformou-se entre caroços

absorvendo uma cor escura

numa forçada comiseração

ante à nossa

 

cega

 

fome

 

 

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