Ellen Maria: Gravidade (2018)

Autora dos livros de poemas Gravidade (Patuá, 2018) e Chacharitas & gambuzinos (Patuá, 2015 – edição bilíngue), Ellen Maria Martins de Vasconcellos veio de Santos. Mestre em Letras na USP; hoje é doutoranda e trabalha como editora de livros didáticos e paradidáticos. Publicou poemas em diversas antologias e revistas impressas e digitais, nacionais e estrangeiras. Também é tradutora freelancer e seus trabalhos mais relevantes também são na área da poesia. É fanática pela literatura latino-americana, pelo cinema oriental e pela culinária do mundo todo. Acredita em fantasmas e desconfia dos vivos. Enxerga muito bem, mas às vezes fecha os olhos. Definitivamente, não tem o coração de pedra.
Portfólio e contato: ellenmartins.wixsite.com/home

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do seu livro Gravidade (Patuá, 2018).

 

 

GRAVIDADE

 

onde caem as maçãs
jaz a teoria
quanto pesa um corpo
quando ainda é
semente?

 

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Wilson Alves-Bezerra: Vertigens (2015)

Wilson Alves-Bezerra é escritor, tradutor, crítico literário e professor de literatura.

É autor dos seguintes ensaios: Reverberações da fronteira em Horacio Quiroga (Humanitas/FAPESP, 2008) e Da clínica do desejo a sua escrita (Mercado de Letras/FAPESP, 2012); e das seguintes obras literárias: Histórias zoófilas e outras atrocidades (contos, EDUFSCar / Oitava Rima, 2013), Vertigens (poemas em prosa, Iluminuras, 2015, que recebeu o Prêmio Jabuti 2016) e O Pau do Brasil (poemas em prosa, Urutau, 2016).

Atua também como tradutor literário: traduziu autores latino-americanos como Horacio Quiroga (Contos da Selva, Cartas de um caçador, Contos de amor de loucura e de morte, todos pela Iluminuras) e Luis Gusmán (Pele e Osso, Os Outros, Hotel Éden, ambos pela Iluminuras). Sua tradução de Pele e Osso, de Luis Gusmán, foi finalista do Prêmio Jabuti 2010, na categoria Melhor tradução literária espanhol-português.

Como resenhista, atualmente colabora com O Estado de S. Paulo, O Globo e El Universal (México). É doutor em literatura comparada pela UERJ e mestre em literatura hispano-americana pela USP, onde também se graduou. É professor de Departamento de Letras da UFSCar, onde atua na graduação e no mestrado. Foi coordenador de cultura da UFSCar, de 2013 a 2016.

 


foto: Mariana Ignatios.

 

Os poemas a seguir foram selecionados do seu livro Vertigens (Iluminuras, 2015).

 

 

I.

 

O oxímoro dos seus seios vejo da fresta do meu
olho esquerdo, enquanto passa a página. Em
qualquer capítulo tateei para lhe saber as carnes.
Mas antes havia bulas, ditados das
professorinhas de redação, silêncio dos beats
preguiçosos, e um acróstico para suas joanetes.
O vento lança guardanapos. Gina mastiga, e eu
lhe sabia mais saborosa que feijoada em lata. Da
letargia de Gina segui adiante, a textura da
encadernação de cobra, seus movimentos, o
tilintar do brinco na minha língua, o fumegar da
cama, o trepidar do fósforo, e o que me faz
transpirar na testa ante o espelho que não vejo,
capítulo três ou capítulo quatro, a pior imagem,
prosseguia Gina, enquanto corrigia a vírgula e
me acentuava, quem foi que guardou a sua perna
que se abria, agora eu abro a página, não tem
figuras este livro tátil. Chega um cidadão assim
de curvado, pesa muito a sua moleira com
galinhas parnasianas da granja. Me oferece um
poema, criado com amor. Gina arrota, seu lábio
toca o dedo que toca o garfo que toca – nisso eu
me viro e vejo. A língua em que foi escrito eu
molho com uma saliva bêbada. Devora um
pouco da minha memória. O poeta necessário
tem um latifúndio produtor de imagens. Torro a
chama do pavio com o dedo, só por precaução.
E eu sempre soube, mas você me retrucava
notas contemporizando. No escuro, linguagem.
Sobretudo seus seios entre o livro. Não fosse a
tatuagem a língua não se excitaria. Peço outra
cerveja.

 

 

 

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Hilda Hilst: anos 1960

Hilda Hilst nasceu em Jaú (SP) em 1930 e faleceu em Campinas (SP) em 2004. Uma das mais importantes escritoras brasileiras do século XX, publicou vasta e versátil obra nos gêneros da poesia, da ficção, da crônica e da dramaturgia.

 

 

Realizaremos um breve panorama de sua trajetória poética, dividido em 5 postagens. Confira a primeira (anos 1950) neste endereço. Desta vez, selecionamos poemas a partir de seus trabalhos publicados na década de 1960: Trovas de muito amor para um amado senhor (1960), Ode fragmentária (1961), Sete cantos do poeta para o anjo (1962), Trajetória poética do ser (1963-1966), Odes maiores ao pai (1963-1966), Iniciação do poeta (1963-1966), Pequenos funerais cantantes ao poeta Carlos Maria Araújo (1967) e Exercícios para uma ideia (1967).

 

 

Ode fragmentária (1961)

 

 

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Morremos sempre.
O que nos mata
São as coisas nascendo:
Hastes e raízes inventadas
E sem querer e por tudo se estendendo
Rondando a minha
Subindo vossa escada.
Presenças penetrando
Na sacada.

Invasões urdindo
Tramas lentas.

Insetos invisíveis
Nas muradas.

Eis o meu quarto agora:
Cinza e lava.
Eis-me nos quatro cantos
(Morte inglória)
Morrendo pelos olhos da memória.
Aproximam-se.
E libertos de presença da carne
Se entreolham.

O teu nascer constante
Traz castigo.
Os teus ressuscitares
Serão prantos.

 

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Rique Ferrári: Rocket Man (2017)

Rique Ferrári é sommelier, professor e colecionador de antiguidades. Escreve poesias desde sempre, mas só agora lançou seu livro Rocket Man (Patuá, 2017), um projeto desenvolvido em viagens pela América do Sul, e todo ilustrado por grandes tatuadores brasileiros.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Rocket Man (Patuá, 2017).

 
 

 
 

MIJADA NO CENTRO DA MADRUGADA

 
 

chove da cintura para baixo num domingo rosmaninho
em mãos, meu órgão mil vezes animal
e perfumados fetos de plantas reverberam na planura do jardim externo
como se um destilado orvalho
deslizasse pelo esmagamento dos rodapés e parapeitos
tendo o poder de embriagar-nos
a fazer inclusive
a casca azul de meus olhos abertos, fechados e então semiabertos
vagar lentamente pela família de troços espalhadas pelo chão da estante
os lápis estão moles, escovas moles, chão, botões moles
meu mister amigável mole órgão
donde no anestésico corpo
o sangue sussurra pelas veias
uma canção de ninar

tempo: para sacudir o pinto

e como é paradoxal a cama ser leve e nós pesados a esta altura
na manutenção de um informático silêncio
(que parece tud0, tud0, tud0, tud0 saber)
jurado pelo ímpar e pelo par e
raramente interrompido
(apenas nos estalos dos fantasmagóricos móveis)

tempo: cama na distância do logo ali

volta-se pianinho para o leito
na sensação abafada
de que, se pisarmos em falso
pode o leve sensor da noite a qualquer momento disparar.

 

 

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Roberto Casarini: Casa 08 80 (2017)

Roberto Casarini (Marília/SP, 8.10.1983), ou Casa, publicou cinco livros de poesia: Casa Rio (Medita, 2013), Casa Fogo (Medita, 2013), Piroca na Oca (Medita, 2014), Casa Mari (2015) e Casa 08 80 (Urutau, 2017). participou do Laboratório de Criação Literária (Ed. Lab.) sob a pajelança do poeta Cláudio Willer, xamã-beat-surreal. o autor traduziu os poemas permutantes de Julio Cortázar, alguns deles publicados na revista euonça. a poesia construída por Casarini, usualmente, é feita à máquina com a permutação de cores (vermelho e negro), o que provoca labirintos ou galáxias de múltiplos versos. atualmente, usa pincéis, dedos e cotonetes para que as cores e formas se fundam com as palavras na criação de uma topografia de circuitos integrados. já pintou as paredes de casa e os muros da cidade na busca de novos traços, espaços e diálogos. poeta concreto e argamassa. poeta de ocas e casas ao acaso. poeta de 80 mundos em mudos muros. os poetas concretos e os escritores Julio Cortázar e Oswald de Andrade são os principais novelos usados pelo autor na costura de sua poética.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Casa 08 80 (Urutau, 2017).

 

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