Prisca Agustoni: Casa dos ossos (2017)

Prisca Agustoni é poeta, tradutora, ficcionista e autora de literatura infantojuvenil. Vive entre a Suíça e o Brasil (Juiz de Fora), onde trabalha como professora de literatura comparada. Seu trabalho literário se desenvolve em português, francês e italiano. [minibiografia contida no livro Casa dos ossos (Edições Macondo, 2017)]

Publicou os livros de poesia Inventário de vozes (2001), Sorelle di fieno (2002), Días emigrantes (2004), A recusa (2009), A morsa (2010), Un ciel provisoire (2015), Hora zero (2016), Casa dos ossos (2017) os livros de contos A neve ilícita (2006) e Cosa resta del bianco (2014), e o livro de ensaios O Atlântico em movimento: signos da diáspora africana na poesia contemporânea de língua portuguesa (2013).

 

 

A seguir, quatro poemas selecionados de seu último livro de poesia, Casa dos ossos (Edições Macondo, 2017).

 

 

digo entra podes entrar que
a casa é pequena mas cabemos
todos – os sapatos
sob o móvel de madeira –
como quando fica perto – dizes – era
uma aposta na escuridão

 

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Jean Narciso Bispo Moura: Psicologia do efêmero (2012)

Jean Narciso Bispo Moura, poeta e professor. É natural de São Félix-BA e reside atualmente em Suzano-SP. Estreou em livro no início dos anos 2000, com o título A lupa e a sensibilidade, também é autor de 75 ossos para um esqueleto poético (2005); Excursão incógnita (2008); Memórias secas de um aqualouco e outros poemas (2011), Psicologia do efêmero (2012). E-mail: para contato: [email protected]. Site: www.literaturaefechadura.com.br.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Psicologia do efêmero (2012).

 

 

PORTO

 

Porto no ócio
Carga em demasia de palavras
Descoloco o olhar dos afazeres
Para o papel avulso
Diálogo-mudo
Sem fé na batina visível
Azucrinado
Enlouqueço dentro do confessionário

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Geruza Zelnys: Folheio teus cabelos, no contratempo do vento (2017)

Geruza Zelnys é escafandrista com doutorado em literatura líquida. Pesquisa as potencialidades provocativas, educativas e terapêuticas das oficinas de criação literária (UNIFESP-CAPES). Em 2014, criou o curso de Escrita Curativa. Publicou três livros de poesia: esse livro não é pra você (Ed. Patuá, 2015), se do meu púbis nascessem asas & outros poemas (Editora Oito e Meio, 2017) e Folheio teus cabelos, no contratempo do vento (Ed. Urutau, 2017); um livro de contos: 9 janelas paralelas & outros incômodos (Ed. Dobradura, 2016) e um romance com o prêmio PROAC 2015: tatuagem: mínimo romance (Ed. Patuá, 2016). O livro de poemas Quintais foi selecionado no Primeiro Edital de Publicação de Livros da Prefeitura de São Paulo e será publicado em 2018. Escreve no blog geruzazelnys.blogspot.com.br.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Folheio teus cabelos, no contratempo do vento (Ed. Urutau, 2017).

 
 

 
 

SEMANÁRIO OU O TEMPO DA DELÍCIA

 
folheio teus cabelos nesta manha de segunda-feira
 

folheio teus cabelos pela manhã
e um sonho colado à corda de sete linhas mais
uma orelha
pendurada na língua a palavra
estremeço

meus olhos abertos no escuro

todas as páginas escritas começam a queimar
pelas beiradas
depois o centro
estremece

a cidade e seus chakras encobertos pela luz

um poema escapa
dos teus pelos
e eu não posso perdê-lo

fodam-se os livros

fodam-se os livros
e todas bibliotecas itinerantes

teu nome é incêndio
e morde

 

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Fred Di Giacomo: Guia poético e prático para sobreviver ao século XXI (2016)

Caipira punk de Penápolis, sertão paulista, Fred Di Giacomo já foi chamado de “polymath” (algo como ‘renascentista’) pela Vice Americana e elogiado por fazer um “free-jazz que junta repertório de vasta leitura com a velocidade fragmentada da sua geração” pelo jornalista Xico Sá. Fred coleciona poemas, contos, games e vídeos que usa como garrafas para lançar suas histórias ao mar. É autor de Canções para ninar adultos e Guia poético e prático para sobreviver ao século XXI lançados pela editora Patuá; além de livros infantis e jornalísticos. Prato Firmeza – o guia gastronômico das quebradas de SP, que editou e co-coordenou, é finalista de 2017 no Prêmio Jabuti. Filho de professores idealistas que o criaram rodeado de livros, o autor revezava bandas punk com poemas em zines e blogs em sua adolescência. Migrou para São Paulo para se arriscar como jornalista e chegou a redator-chefe, na Editora Abril. Nesse período, foi pioneiro na criação de newsgames, como Filosofighters e Science Kombat, e teve infográficos premiados internacionalmente. Por projetos como esses foi acusado pela Vice de redefinir a narrativa multidisciplinar. Depois de sete anos e meio, pediu demissão para morar em Berlim e tocar sua investigação sobre a felicidade – o Glück Project. Também compõe letras e toca baixo na Bedibê. Seus textos foram traduzidos para o inglês, espanhol e o alemão. Escreve para sobreviver.

 


foto: Felipe Cotrim

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Guia poético e prático para sobreviver ao século XXI (Patuá, 2016), disponível para compra neste endereço.

 

 

CARTA AO FILHO

 

Oh, meu filho, escute bem.
Oh, meu filho, que ainda não brotou,
Brote bela flor,
venha com amor.

Oh, meu filho, escute bem.
Quando o seu pai se for,
não for mais eu,
Souber que já morreu.

Recorde-se:

Da terra, somos o sal
Do destino, o leme
Da existência, o intento

***
Dinheiro não é importante.
O que importa são as pessoas,
a arte e os pequenos prazeres:

Um café, uma cerveja, fazer amor
Ler o céu,
dormir abraçado com quem se benquer,

Ajudar sem ansiar nada em troca.
Ouvir uma canção que nos chova os olhos
e aprender algo novo a cada dia.

Não engolir a miséria,
Não destratar o próximo,
Não abaixar a cabeça.

Amar o outro, mas amar a si mesmo.
E devolver o mundo um pouco melhor
do que se recebeu

***
Um pouco melhor
do que
se recebeu

***
Meu filho querido,
Você ainda não nasceu,
Mas é um pequeno sonho meu.

Meu filho, o que importa
É só o amor
Que um dia me deram e, hoje, te dou.

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Carlos Drummond de Andrade: José (1942)

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira em 1902 e faleceu em 1987 no Rio de Janeiro. Escreveu, dentre muitos outros, os livros de poesia Alguma Poesia (edições Pindorama, 1930), Sentimento do mundo (Pongetti, 1940), A Rosa do Povo (José Olympio, 1945), Claro Enigma (José Olympio, 1951) e Boitempo (Sabiá, 1968). É um dos mais influentes poetas brasileiros do século XX.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do seu quarto livro de poesia José, publicado pela primeira vez na compilação Poesias (José Olympio, 1942). Confira as postagens de suas outras obras neste endereço.

 

 

 

JOSÉ
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…

Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

 

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