Nathaly Felipe: Poemas dissonantes (2020)

Nathaly Felipe Ferreira Alves nasceu em 1988, em Mauá, São Paulo, onde vive. É ganhadora do Prêmio Maraã de Poesia 2019. Seu livro de estreia, Poemas Dissonantes (2020), encontrou colo na coedição das casas editoriais Reformatório e Patuá. Alguns de seus poemas inéditos foram publicados, em junho e novembro de 2020, na revista gueto e na mallarmargens. É doutoranda em Teoria e História Literária pelo IEL/Unicamp, com bolsa concedida pela FAPESP. Possui artigos e ensaios, frutos de seu trabalho de pesquisa, publicados em revistas acadêmicas. Trabalhou com educação pública por nove anos e acredita em sua potência, mesmo com tantas dificuldades.  



Os poemas a seguir foram selecionados do livro Poemas dissonantes (Reformatório / Patuá, 2020).



SUPRESSÃO


     O fim da tarde dói
rompe feridas púrpuras
       — horizonte —
         ruído d’água
   o escuro projeta vazio
vozes de stellas perdidas.

A voz do mar mareja.
Soa surda em gotas de areia.
O silêncio esgota reflexos de céu
escorre pelos esgotos.

                        Agosto. Frios:
                        a tarde queima. Apaga.
                       À tarde, o cais corrói:

— hematoma de céu —


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Douglas Farias: Bedroom pop (2020)

Douglas da Silva Farias nasceu em 1997, Porto Alegre (RS). É poeta e acadêmico de História. Atualmente vive em Gravataí.


Os poemas a seguir foram selecionados do livro Bedroom pop (Editora Primata, 2020), disponível para compra neste endereço.


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Cantata Alexander Nevsky, Opus. 78
Interpretação Manfredo Schmiedt
Solista Mere Oliveira

um simples joguete
ocasião de um deus-cantata
que se manifesta pelos altos, sopranos e baixos

mezzo-soprano surgindo entre cordas e sopros
a orquestra inteira por um maestro

depois de Prokofiev não existe nada



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Anna Vis: Máquina orgânica (2019)

Anna Vis é poeta, astróloga, compositora e cantora. Publica seus trabalhos no site Boca de Leão e é autora do livro Máquina orgânica (Editora Primata, 2019).



Os poemas a seguir foram selecionados do livro Máquina orgânica (Editora Primata, 2019), disponível para compra neste endereço.



ELEITO LEITOR


Se estamos –
nós íntimos – sozinhos
te abrindo,
exponho cartas
na nossa cara cansada
à cara oculta.

Tudo que não escolhi
saindo pelo seu corpo
lábio lexo
lendo lento

no limite nós.
Nos espera a morte.
Lhe amarro a língua pela lateral da minha.


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Ademir Demarchi: In fuck we trust (2020)

Ademir Demarchi nasceu em Maringá-PR em 1960 e reside em Santos-SP. Editor da revista de poesia BABEL, organizou a antologia 101 poetas do Paraná – Antologia de escritas poéticas do século XIX ao XXI e publicou, entre outros, os livros de poemas Os mortos na sala de jantar; Pirão de sereia; Gambiarra, uma pinguela para o futuro do pretérito; In Fuck We Trust; Louvores gozosos; Cemitério da Filosofia; e os livros de ensaios Espantalhos e Contrapoéticas.   



Os poemas a seguir foram selecionados do livro In fuck we trust (Urutau, 2020).



O BANQUETE


dez mil lojas fechadas num trimestre
festeja o sindicato dos empresários da classe média
anunciando o fato como despiora
pois um ano antes foram 15 mil e no outro 37 mil
que baixaram portas fechando o caminho para o consumo
já os frangos coitados
foram 6 bilhões de cabecinhas cortadas
muito mais meio milhão que antes
e a exportação de carros subsidiados
como frangos aumentou 23%
e parece piada que o ministro
do meio ambiente da frança
seja monsieur petit nicolas hulot
ao anunciar que o país vai banir
carro a gasolina e diesel
como verdadeira revolução
perdendo o pudor com a palavra
imantada pela guilhotina

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Lígia Dabul: Garça Torta/Crooked Heron (2017)

Lígia Dabul nasceu e vive no Rio de Janeiro. Publicou os livros de poesia Som (Rio de Janeiro, Editora Bem-Te-Vi, 2005), Luces/Luzes (La Plata, Editora Universidad Nacional de La Plata, 2008), Nave (São Paulo, Lumme Editor, 2010), Garça Torta/Crooked Heron (Londres, Carnaval Press, 2017) e a plaquete Algo do Gênero (São Paulo, Arqueria Editorial, 2010). É professora colaboradora das Pós-Graduações em Sociologia e em Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense, onde faz pesquisas em antropologia e sociologia da arte.



Os poemas a seguir foram selecionados da obra Garça Torta/Crooked Heron (Londres, Carnaval Press, 2017), cuja ilustração de capa Maravilhas (2015) é de Lua Celina.



JARDIM DA SEREIA

Cravo as patas
no Jardim da Sereia.
Um inseto encontraria
fácil as esculturas

depois de quase ser levado
pelo vento frio e solidão
na Praça da República.

Se eu fosse um casal
gastava aqui – banco
azul infinito –
o resto da manhã.

Um pássaro, engolia
os confetes que sobraram
da festa da véspera
atraído por sementes
varridas ainda agora.

A fonte onde azulejos
luzem sob limo
talvez cante.


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