Jefferson Dias: Qualquer lugar (2020)

Jefferson Dias, nascido em Monte Sião, MG, vive e trabalha em Ribeirão Preto, SP. Poeta e prosador, tem poemas, contos, traduções e resenhas publicados em diversos periódicos e portais de literatura do Brasil e de Portugal. É autor dos livros de poesia Último festim (Multifoco, 2013), Silenciosa maneira (Medita, 2015) e Qualquer lugar (Editora Primata, 2020).



Os poemas a seguir foram selecionados de seu livro mais recente – Qualquer lugar (Editora Primata, 2020), disponível para aquisição neste link.



O TORNIQUETE


Pedem-me que eu seja mais claro;
Mas se o vento tão aberto – 500 km/h! –
Espanca os míticos labirintos da visão
E se o noturno útero enreda a via férrea
Por onde passa a diurna cabeça de tigre,
Por que deveria eu estrangular
A imagem – pura sanguinolência elétrica,
Já um nódulo destrutivo na retidão do corpo –,
Por que deveria eu entregar-me
A um infenso utilitarismo?

Afio minha voz criminosamente,
De modo a poder me tornar, afinal,
Uma besta impossível.

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Fabiano Fernandes Garcez: Badaladas de uma preliminar (2020)

Fabiano Fernandes Garcez nasceu em 3 de abril de 1976, na cidade de São Paulo. Formou-se em Letras, é professor de língua portuguesa. É autor dos livros Poesia se é que há (2008), Diálogos que ainda restam (2010), Rastros para um testamento (2012) e Em meio ao ruídos urbanos (2016) finalista, na categoria autor do ano e poesia, do Prêmio Guarulhos de Literatura 2017 e vencedor do mesmo prêmio na categoria poesia, no ano de 2019, com Um grama, apenas, do abstrato, ainda no prelo. Além do mais novo Badaladas de uma preliminar (2020).




A seleção a seguir foi realizada a partir da obra “Badaladas de uma preliminar” (Editora Primata, 2020), que reúne poemas dos três primeiros livros do autor – “Poesia se é que há” (2008, Scortecci), “Diálogos que ainda restam” (2014, Penalux), “Rastros para um testamento” (2013, Penalux) – e mais alguns elencados em coletâneas e revistas virtuais e impressas. O livro pode ser adquirido neste link.



A POESIA QUANDO QUEIMA

Para Rubens Jardim



Traz o punho cerrado

golpeando o ar

a voz rouca

pausada, embargada

rasgando, rompendo

a tarde, a noite

no meio da avenida

ou na calçada

A poesia quando queima

ecoa potência

de uma prece

de uma luta

de uma vida

Que em todos

arde, consome ou

explode


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Júlia Lelli: Pequena Morte (2020)

Júlia Lelli. Artista. Filha da terra. Formada em audiovisual, fotógrafa, cinéfila, poeta e caminhante.



Os poemas a seguir foram selecionadas do livro Pequena Morte (Editora Primata, 2020), disponível para aquisição neste link.


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A vida passa por mim
A vida penetra em mim
Corta a pele
rasga o músculo
Dói
Dói um bocado

A vida se ajeita em mim
como um gato que ronrona
Faz carícias em meu ventre
brinca com meus dedos

Vez ou outra
a vida é doce


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Rodrigo Lobo Damasceno: Casa do Norte (2020)

Rodrigo Lobo Damasceno nasceu em Feira de Santana (BA), em 1985, e vive em São Paulo desde 2011. Escreve poemas, contos, romances e en­saios. Às vezes, traduz. Junto com a artista Camila Hion, edita textos e imagens pelo selo treme~terra, onde atua também como artesão e feirante. Ao lado de Fabiano Calixto, Natália Agra e Tiago Guilherme Pinheiro, faz a revista de poesia Meteöro.

foto: Camila Hion


Os poemas a seguir foram selecionados do seu livro de estreia Casa do Norte (Corsário-Satã, 2020), disponível em pré-venda neste link.




BAR TORQUATO NETO


para Gustavo


            à beira do parnaíba, lá pra cima,

um vampiro, sozinho e bêbado, passeia por teresina

            – triste nosferatu

            nordestino

            afeito

            ao trópico –

seu grito faz eco no espaço aberto do viaduto do chá

sabemos que chove

e em são paulo

ninguém te dá

boas-vindas

            mas a revolução

se chama nordeste

e é feroz

            e infinita –

no coração machucado da anarquia,

pra além do comércio das almas

            dos corpos

das armas

            das drogas,

um galo canta

e tece e incendeia o dia,

e nas calçadas – agora –

            (à beira das ruas

            dos bares

            e das revoltas),

dentro de nós

há de ser

o lado

de fora

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Fabiano Calixto: Fliperama (2020)

Fabiano Calixto nasceu em Garanhuns (PE), em 8 de junho de 1973, e vive em São Paulo. É poeta, editor e professor. Doutor em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela Universidade de São Paulo (USP). Publicou os seguintes livros de poesia: Algum (edição do autor, 1998), Fábrica (Alpharrabio Edições, 2000), Música possível (CosacNaify/ 7Letras, 2006), Sanguínea (Editora 34, 2007), A canção do vendedor de pipocas (7Letras, 2013), Equatorial (Tinta-da-China, 2014), Nominata morfina (Corsário-Satã, 2014) e Fliperama (Corsário-Satã, 2020). Divide, com a poeta Natália Agra, os trabalhos da editora Corsário-Satã, a casa e os cuidados com os gatos Bacon Frito e Panqueca. É um dos editores da revista de poesia Meteöro. No campo musical, está preparando o primeiro disco de sua banda de rock, o Gabiru Attack, e, ao lado de Leoni, Lourenço Monteiro e Humberto Barros, participa do coletivo sonoro O Hipopótamo Alado.



retrato digital de Pedro Mohallem


Os poemas a seguir foram selecionados da obra Fliperama (Corsário-Satã, 2020).




A FLOR HENDRIXIANA


flor verde-roxa, flor
que rasga a rocha

abre as asas do real
(oco, coxo, capenga)

dá floração, pistilo
ao que era só sombrio

adormece a cidade sob
um lençol de estrelas

pequenas vitórias, roteiros,
iluminações, magias menores

o tempo, osso e medula,
terrível e mínimo pesadelo

(dub bud) pétalas
e cheiros de frutas doces

folhas de luz verde
cálices de êxtase

medita, sobre os escombros
do século triste, na calma, a flor

expira, no arroubo da abelha,
seu ouro, seu alfabeto de sóis

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