Ana Rüsche – num quando

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Leitura de Ana Rüsche no evento Desconcertos de poesia, organizado por Claudinei Vieira no Patuscada – Livraria, bar & café, dia 19/07/2016.

 

NUM QUANDO

a cirurgia foi um after hours, mas estou
acostumada a ir dormir tarde
acho que os médicos também, tão animados
fui sim até o centro cirúrgico bem acordada e
fiquei acordada, sinto a hack entrando
entrando…
ainda ao longe, bem corajosinha, uma conversa
sobre qualquer coisa, luzes nos olhos
para que me sinta bem iluminada, bem disposta
de súbito lembro que não fiz depilação, e isso me
envergonha mortalmente
seria tudo filmado e colocado no youtube da
faculdade de medicina, ririam de mim
mas tenho de explicar – foi de urgência a
cirurgia, não houve tempo
nunca há tempo para nada nessas terras, apenas
para ficar ali, suspensa
e, afinal, não tenho namorado, foi uma urgência,
acontece

no início me estacionaram com o carro-maca ao
lado de um cara paciente também
podíamos até começar ali um romance,
lembro de ter desejado ao final “boa sorte, moça”
e isso acabou já com tudo, que bobo
ele morria de medo, ia retirar uma pedra do rim e
não se rendia a dormir
eu logo disse, ah, comigo também pensaram que
era cálculo renal, pela dor,
mas  depois viram que era uma laranja na
barriga que eu tinha…
de súbito lembro que removeram o cara paciente
com seu carro-maca e com seu medo
e fiquei pensando num poema do zukofsky, sobre
uma laranja e o sol e a letra a
e estava já chorando, desesperada por estar sozinha
e confundindo os poemas, estar tão sozinha,
e a dor, bem, isso é com as mulheres

Wagner Miranda

Wagner Miranda é formado em Letras pela PUC/SP e publicou o livro de poesia Adeus do Porto (Dobra Editorial) em 2013. Trabalha com tradução e administra o brincando de deus, que contém algumas de suas traduções para poemas e letras de músicas, além de uma seção multimídia com videopoemas em parceria com Marcelo Badari e Jeanine Will, áudios de leituras, etc.

 

 

SESSION
 
o estojo aberto sobre a mesa
companhia inseparável da cerveja,
stout escura como a noite que uiva lá fora
o veludo à mostra,
escarlate como os vasos
que irrigam nosso interior com vida
o breu repousa sobre o verniz
do corpo moldado com esmero
a coroa que o clássico renega
1, 2,3
quase imperceptível tap dance
sob a mesa, sobre a madeira ainda viva
suas mãos transpiram notas
sorrisos ofuscam a luz baixa
a disritmia não é evidente
a precisão é indiferente
diante dos rostos iluminados
pela reverberação do seu amor,
que vibra nas cordas resilientes
do seu fiel companheiro
você aprende algo que a teoria não te ensinou
os aplausos também se alimentam
de alma

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Ricardo Escudeiro: rachar átomos e depois (2016)

Ricardo Escudeiro nasceu em Santo André-SP, em 1984, onde vive. É autor dos livros de poemas rachar átomos e depois (Editora Patuá, 2016) e tempo espaço re tratos (Editora Patuá, 2014). Graduado em Letras na USP, desenvolve projeto de mestrado com interesse em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e Estudos de Gênero. Assina a coluna desglutição, no Portal Heráclito. Atua no ensino fundamental II e no ensino médio. Possui publicações em mídias digitais e impressas: site da Revista CULT, Mallarmargens-revista de poesia e arte contemporânea, Germina-Revista de Literatura & Arte, Jornal RelevO, Revista Nefelibata, Revista Gente de Palavra, Revista SAMIZDAT, 7faces caderno-revista de poesia, Revista Pausa, Flanzine (Portugal), Revista Carlos Zemek, Revista Mortal. Publica poemas mensalmente na Revista Soletras, de Moçambique. Participou da antologia 29 de abril: o verso da violência (Editora Patuá, 2015). Foi poeta convidado no Espaço Literatura da 13ª Feira Cultural Preta, em 2014, e do sarau Plástico Bolha, evento de encerramento da exposição Poesia Agora, no Museu da Língua Portuguesa, em 2015.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro rachar átomos e depois (Editora Patuá, 2016).

 

 

FUBECA

queria
um presente
qualquer dia
um olho
inerte e alheio
vidro
que nem vê e
que nem
sente
e que fixo despresencia a depredação do tempo

egoísmo

encher um pote com esses olhinhos
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Daniel Tomaz Wachowicz

Nascido em Taboão da Serra – SP, Daniel Tomaz Wachowicz é formado em Letras e é professor de português e inglês, tendo feito diversos cursos de produção literária. Em 2014 fez o lançamento de seu primeiro livro de poesias Convite ao abismo, pela Multifoco. Atualmente estuda música na FPA (Faculdade Paulista de Artes) e uma de suas metas é musicar poesias.

 

 
 

TEMPOS DE PENHASCO

São tempos de penhasco
Para a boca trêmula
Que aperta a fala
Que sai espremida
Entre dentes e lábios
Que tremem inseguros.

A fala é frágil
E se dissipa no ar
Antes de se chocar
Com os ouvidos
Que nunca ouvirão
Aquelas pétalas finas
Dizerem: eu te amo.

 
 

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Gabriel Felipe Jacomel: Deflora (2016)

Gabriel Felipe Jacomel é autor da Deflora (Editora Patuá, 2016), bem como de diversos escritos espalhados por aí – grande parte disponível em faziafagiaebulimia.blogspot.com. Gravou com o Balanço Bruxólico os EPs homônimo (2007) e Episódio Piloto (2010), e com o Café da Manhã outro EP de mesmo nome da banda (2012). Também atuou em alguns curtas, longas e peças, e dirigiu algumas destas.

 

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Os poemas a seguir foram selecionados do livro Deflora (Editora Patuá, 2016).

 

ONIFAGIA (FAS ORAL)

expurgarte
vomitar-te
até o estranho objeto
até o entranho abjeto
de mim fora
fazer parte

refeição de meninice

não sacia
só faz arte”

    no sofá
a lambuzar

no sol fa(z)
ali mentar

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