Eleazar Venancio Carrias: Máquina (2021)

Eleazar Venancio Carrias nasceu em 1977, no município de Tucuruí, Pará. Publicou os livros de poesia Máquina (Urutau, 2021), Regras de fuga (e-galáxia, 2017) e Quatro gavetas (Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, 2009), vencedor do Prêmio Dalcídio Jurandir de Literatura 2008. Em 2022, foi semifinalista do Prêmio Oceanos e finalista do Prêmio Mix Literário. 



Os poemas a seguir foram selecionados do livro Máquina (Urutau, 2021).


BABILÔNIA

Babilônia não fica longe.
É nela que habito
desde que você partiu.

Não há exílio maior
do que percorrer a casa
com uma cadeira vazia
atravessada no peito.



UM MÉTODO

Cultivar esperanças,
observar seu crescimento e,
então, matá-las.
Como queria o Apóstolo:
esperar contra a esperança.


PROTOPOEMA 2


Uma orquestra desmoronando
um batalhão que de repente se ajoelha
um navio em chamas, afundando
uma nuvem de pássaros contra a vidraça
manada de búfalos na curva da estrada
úmido planeta que saísse de órbita
um deserto mudando de lugar —
um império que desaparece
sob a cartografia enrugada.


A MÁQUINA


Esta é a máquina:
está diante de você,
mas é preciso imaginá-la.
Sem fechar os olhos,
imaginá-la — tendo o cuidado
de não acrescentar
nada que já não lhe fosse exterior.

Agora aproxime-se.
Ninguém a fabricou,
no entanto ela existe
desde sempre, com todas
as engrenagens, com alavancas
e botões e pinos que tinham
outros nomes, antes que
alavancas e pinos
se tornassem palavras obsoletas.

Teu antigo desejo,
a vontade ancestral,
neste exato momento
depende apenas de ti —
e tudo é a mesma faísca
correndo por trás de díspares
nuanças que te cercaram
a vida inteira. Aqui está a máquina.

Você pode acioná-la.
Não há pré-requisitos, apenas o gesto
demandado pelo tremor sutil
que sobe da terra, quando dela
te aproximas consciente: A máquina.

Trata-se de apertar o botão correto,
como em quase tudo
no que sobrou do que chamamos vida.
Mas de repente você se dá conta:
é a faísca, exterior,
é a faísca — que te faz desejo e dúvida —
que será sugada para dentro da máquina,
fazendo-a engrenar, diligente
na confecção do sonho ancestral.
Agora, você viverá para sempre,
mas não terá desejo algum.

O rosto branco como lápide branca,
você dá dois passos para trás,
e desiste, sem fazer as contas.

Primata

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