Marcus Groza

Marcus Groza é professor, palavrero e devoto do céu violado. Publicou o livro de poemas e narrativas Sossego Abutre (Editora Patuá , 2015). Em 2016, assinou o libreto-dramaturgia e a encenação da anti-ópera Rua Carne Entre as Articulações. É doutorando em Artes Cênicas (Unirio) e coeditor da Revista Abate e da Revista Saúva.

 

 

 

 

DEFENESTRANDO MENDIETA

 

|EU queimou a VÍTIMA|

nem uma sobra
nem uma lasca de herói
nada
somente mortos e assassinos

quem aqui não carrega
o rosto empoeirado
da última terra que o vento criminoso
levantou por favor
esvazie os bolsos de pedras

quem inocência jurar
quem inocente ou ileso
se abraça e se conforta a si mesmo
carrega a moeda do herói
na ponta do nariz
com ela o mundo coloniza
domestica ou tenta ou imagina
a cada manhã em que pisa no chão

como seria
se o universo tivesse um eixo
e isso eixo fosse

EU Isso
| Deus |
Isso EU

um sorriso extenuante
concretado no rosto
uma ave pousada na cabeça como fosse um chapéu
uma ave que não voa
e você também não a espanta
nunca
nem às vezes para um daqueles respiros
em que mais e mais nos vinculamos um ao outro
meu amor
nem para um passeio arejar a cabeça
nada
e continuo
fingindo silêncio
colorindo a pele no verão

um dia sim
sonhei um dia
uma invenção de poeira
coisa de menino
montar com cacos sonhei
EU VÍTIMA

mas nem uma sobra
nem uma lasca de herói
nada
somente mortos e assassinos

 

PRECES AO MAU TEMPO

 

de tudo que dá na terra
honrar respeitar bem dizer

de tudo que dá na terra
nosso futuro ao breu consagrado

ave o seu ventre mãe de deus e nossa
decepamos a destra o cetro

não menos o nascimento e a luz
ofusclarão de placenta oca

de tudo que dá na terra
nos ensina confundir respeito e amor

de tudo que dá na terra
corrompíveis por própria natureza

repete que é dor o que educa
e faz lentamente a pele crescer
sobre os espartilhos da doutrina

de tudo que dá na terra
nos acinzentaram a imaginação para as cores do desobedecer

desobediência de rato e desobediência de leão
desobediência de água-viva e desobediência de mosca

ainda são bípedes
os que vivem de joelhos?

te amoamaldiçoo e se respeitobediência desse
não daria nem mínimo naco de atenção de carinho bobo imbecil sincero sedutor autoritário violento guardado a sete chaves mas sem asilo político e vira e mexe escorrendo vala adentro em beiras sem plástico bolha ou atmosferas de neblina

euclidianas neblinas
excrescências e regiões de pele morta

vileza no canteiro de obras
o último recurso é sempre alagar tudo

e começar
de novo

 

 

Primata

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *