Anna Vis é poeta, astróloga, compositora e cantora. Publica seus trabalhos no site Boca de Leão e é autora do livro Máquina orgânica (Editora Primata, 2019).
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Máquina orgânica (Editora Primata, 2019), disponível para compra neste endereço.
ELEITO LEITOR
Se estamos – nós íntimos – sozinhos te abrindo, exponho cartas na nossa cara cansada à cara oculta.
Tudo que não escolhi saindo pelo seu corpo lábio lexo lendo lento
no limite nós. Nos espera a morte. Lhe amarro a língua pela lateral da minha.
Ademir Demarchi nasceu em Maringá-PR em 1960 e reside em Santos-SP. Editor da revista de poesia BABEL, organizou a antologia 101 poetas do Paraná – Antologia de escritas poéticas do século XIX ao XXI e publicou, entre outros, os livros de poemas Os mortos na sala de jantar;Pirão de sereia;Gambiarra, uma pinguela para o futuro do pretérito; In Fuck We Trust; Louvores gozosos; Cemitério da Filosofia; e os livros de ensaios Espantalhos e Contrapoéticas.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro In fuck we trust (Urutau, 2020).
O BANQUETE
dez mil lojas fechadas num trimestre festeja o sindicato dos empresários da classe média anunciando o fato como despiora pois um ano antes foram 15 mil e no outro 37 mil que baixaram portas fechando o caminho para o consumo já os frangos coitados foram 6 bilhões de cabecinhas cortadas muito mais meio milhão que antes e a exportação de carros subsidiados como frangos aumentou 23% e parece piada que o ministro do meio ambiente da frança seja monsieur petit nicolas hulot ao anunciar que o país vai banir carro a gasolina e diesel como verdadeira revolução perdendo o pudor com a palavra imantada pela guilhotina
Lígia Dabul nasceu e vive no Rio de Janeiro. Publicou os livros de poesia Som (Rio de Janeiro, Editora Bem-Te-Vi, 2005), Luces/Luzes (La Plata, Editora Universidad Nacional de La Plata, 2008), Nave (São Paulo, Lumme Editor, 2010), Garça Torta/Crooked Heron (Londres, Carnaval Press, 2017) e a plaquete Algo do Gênero (São Paulo, Arqueria Editorial, 2010). É professora colaboradora das Pós-Graduações em Sociologia e em Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense, onde faz pesquisas em antropologia e sociologia da arte.
Os poemas a seguir foram selecionados da obra Garça Torta/Crooked Heron (Londres, Carnaval Press, 2017), cuja ilustração de capa Maravilhas (2015) é de Lua Celina.
JARDIM DA SEREIA
Cravo as patas no Jardim da Sereia. Um inseto encontraria fácil as esculturas
depois de quase ser levado pelo vento frio e solidão na Praça da República.
Se eu fosse um casal gastava aqui – banco azul infinito – o resto da manhã.
Um pássaro, engolia os confetes que sobraram da festa da véspera atraído por sementes varridas ainda agora.
A fonte onde azulejos luzem sob limo talvez cante.
Luís Perdiz nasceu em Campinas/SP. Poeta, compositor e editor, coordena a revista eletrônica Poesia Primata com foco em literatura brasileira contemporânea.
Desejo de terra, seu livro mais recente, foi contemplado com a bolsa de Criação e Publicação Literária ProACSP. Com apresentação de Jorge Mautner e prefácio Claudio Willer, a obra retoma suas principais influências: o modernismo brasileiro, a tropicália, o surrealismo e a geração beat.
Os poemas a seguir foram selecionados da obra Desejo de terra (Primata / Patuá, 2019), disponível para aquisição neste link.
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Através dos sonhos sambamos cegos de tanto néctar. As raízes rugem anunciando o sol.
Telma Scherer é artista e professora do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas da UFSC, na área de literatura brasileira. Atuou como professora substituta no Centro de Artes da UDESC, na área da linguagem pictórica. Trabalhou no campo da literatura e da performance, realizando apresentações de poesia e oficinas, para diversas instituições, entre elas o SESC/SC, o SESC/RS, a Bienal do Mercosul e a Prefeitura de Porto Alegre. Publicou o romance “Lugares ogros” (Caiaponte, 2019), o livro de artista “Entre o vento e o peso da página” (Medusa, 2018), e cinco livros de poesia: “Desconjunto” (IEL, 2002), “Rumor da casa” (7 Letras, 2008), “Depois da água” (Nave, 2014), “O sono de Cronos” (Terra Redonda, 2019) e “Squirt” (Terra Redonda, 2019). É formada em Filosofia (UFRGS) e em Artes Visuais (UDESC), com mestrado (UFRGS) e doutorado (UFSC) em Literatura, sobre a obra de Ricardo Aleixo, com período sanduíche na UPORTO, Portugal. Tem pesquisa na área da poesia expandida e da performance, bem como do contágio entre modos de escrita em literatura e artes visuais. Realizou pós-doutoramento no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, linha de Processos Artísticos Contemporâneos.
Os poemas a seguir foram selecionados da obra “Squirt” (Terra Redonda, 2019).
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às vezes, uma fogueira aprofunda o vento. quando se está a sós com os caderninhos é que se percebe o quanto uma fogueira rasga o dia de pleno alvorecer. seja no movimento dos sons, seja nos ocos de alvoroços. às vezes, uma fogueira se adensa de seu não ser. é de quases, de nadas, de coisinhas finas e à toas. às vezes, é no grau de uma fogueira assim, apagada, em plena luz do olhar, que se percebe que as varandas promovem a passagem dos rapazes. e que eles vão roubar o doce de dentro das madeiras, dos móveis, e subornam mamadeiras. uma fogueira percebe que é tonto aquele que coloca galhos e galhos desnecessários no vão do dia. às vezes, uma fogueira faz besteiras, porque não quer dizer o que ela é: verdade tanto para dias quentes quanto para noites e para quando a primavera se esquece de chegar. e nada disso tem a ver com as pedras ou com as necessidades. uma fogueira venera qualquer chão: e é no miudinho da terra batida que ela abate mais uma estrela. uma fogueira aprofunda o vento porque ele não cessa de se esquecer. ela rebate as críticas com seu sabor de brisa. uma fogueira sabe, sim, aprofundar o vento. por isso, se apaga sozinha ao contato do seu ímpeto, e se alastra pelas margens, e se engasga no seu próprio squirt.