Lia Macruz nasceu e reside em Assis, interior de SP. Alma de caipira cósmica e essência azul estelar com terra vermelha.
foto: Carmem Portilho
Os poemas a seguir foram selecionados de seu primeiro livro: Andrômeda sob os pés (Editora Primata, 2017), disponível para compra neste endereço.
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eu
esse lugar de passagem
essa via transitória
de quem chega e de quem vai
eu
uma bifurcação que habito
num lapso de tempo
meu limite acrônico
meu concomitante desvanecer
eu a derreter o meu próprio espectador
eu, um não-lugar.
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atração fascinante em ver
o leão devorar o sol
esculpir o medo enraizado
no rochedo de hades
acordar cristo da sepultura
cuspir jonas da baleia
repetidos abraços arcaicos
sob o triunfo do mergulho
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eclodo de um ovo caótico
dançando na colher
de um menino equilibrista
os arranha-céus do tamanho
de minhas unhas
crescem junto a aflição urbana
abrindo ferida entre
a pele e a queratina
essa dor amarelo-gema presa de baixo
das escamas da cidade
esse lodo verde engolido por um sapo
abandonado no córrego pinheiros
essa melanina cerebral
naufragada num espasmo de eletrochoques coletivos
hão de ser adubos
para a fossa agroecológica
de meu sangue
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todo dia atingimos
a magnitude absoluta
em algum lugar
um núcleo galáctico
colide com a via láctea
rastreamos os objetos astronômicos
mais brilhantes do nosso céu profundo
encontramos astros dentro de nós
localizados a 2,4 milhões de anos-luz
o livro das estrelas fixas
foi impresso com a tinta celular
de nosso plasma
algum astrônomo persa escreveu
nosso nome em uma carta estelar
alguma constelação ancestral sonhou com o corpo humano
e fundiu pacientemente o projeto primata da nossa vida
Andrômeda está sob os nossos pés.