Kleber Lima: Poemas I (2016)

Kleber Lima é bibliotecário e nasceu em Teresina (PI) em 1984.



Os poemas a seguir foram selecionados do livro “Poemas I” (Penalux, 2016).



1


Não há lugar
a não ser você ou eu.
Desapropriada a dor
um deserto se instala
progride sobre nossos corpos
irreversivelmente;
como lagartos
precipitamos no arenoso,
em busca da umidade,
manter o escasso
o nível exato do ávido
ou aumentar o estoque
o make me a mask antitédio
através das sucções cactáceas
do beijo
da desova lírica
desses blocos de ácido no peito
somos derivados
salvos, contudo,
por essas parênquimas aquíferas
absintando nossas feridas
por esses sumos sem rumo
recheados de carne ofídica
o amor goelabaixo
o amor goelabaixo
o amor goelabaixo
entre nossos caninos dentes
também dá samba.

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R. Paiva: Cenas da passagem (2021)

Raphael Paiva nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1998. Dedica-se à poesia desde os 14, tendo começado a traduzir aos 17 (inicialmente, apenas poetas anglófonos, como William Butler Yeats e Ezra Pound) a fim de estudar a lírica na intimidade de diferentes línguas e tradições.




Os poemas a seguir foram selecionados do seu livro Cenas da passagem (Primata, 2021), disponível para aquisição neste link.



I


Sou contra a pedra que jaz profunda, etimológica, no adjetivo pétreo.

A pedra, dormente, acrítica,
é de uma paciência sem descanso ao tempo.
A pedra pesa,
a pedra vale,
a pedra sem fim, a pedra finita,
intimidade concreta, substantiva, despida de metafísica – que não a penetra –

opõe-se ao destino de coisa abjeta.

Calada, a pedra dispensa também silêncio,
gravidade, vida, valores.
A pedra, com sua pedagogia ociosa, oprimida,
só me ensinou a atirá-la:

antes, nas horas vagas;

hoje, nas decisivas.


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Jhenifer Silva: no olho da mata virgem (2021)

Jhenifer Silva (1986) nasceu em Mirassol, no noroeste paulista, e vive em Barão Geraldo (Campinas) desde 2013. É mestra em Teoria e Crítica Literária pela Universidade Estadual de Campinas, onde desenvolve tese de doutorado na mesma área. Além de pesquisadora, trabalha com formação de professores e escreve poemas. Tem textos em revistas digitais e impressas, entre as quais estão Lavoura, Garupa e Felisberta. Seu livro de estreia, no olho da mata virgem (2021), saiu pela Ofícios Terrestres Edições. E-mail para contato: [email protected].


Os poemas a seguir foram selecionados do livro no olho da mata virgem (Ofícios Terrestres Edições, 2021)



ABRINDO CAMINHO


na estrada recém-aberta
esta lança esgarça o caminho
os galhos o rio toda a miríade
cruza o interior da folhagem densa
onde apenas bichos passaram durante
anos. algum tempo depois encontra o teu peito
fechado como o matagal. a geleira imediatamente
se derrete e peixes engaiolados saltam para as margens do rio
você alonga as sobrancelhas abre um assovio fino
_ demorou para os peixes mergulharem de novo
o mato volta a crescer, cobrindo toda ferida
foi um assovio ou alguma coisa foi dita?
despreocupada com os pés na grama
rio dos homens só mais uma vez
enquanto treme o meu corpo
inflado por aquele assovio
na navalha do silêncio
ouço trovões grunhi
dos ilumina-se céu
aprendo a falar

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Pedro Torreão: Pão Só (2021)

Pedro Torreão é cientista social, mestre em Sociologia e poeta. Nascido em Recife, reside em São Paulo desde 2017, onde escreveu “Pão só”, que recebeu menção honrosa no Prêmio Maraã de Poesia 2019.

foto: Luiza Assis e Natalia Nunes


Os poemas a seguir foram selecionados do livro “Pão só” (Urutau, 2021).



TEU SANGUE


raro sentido
em minha pele
espalhado em mucosas
e mãos.

Quando toco
uma falta
que ele me faz:
escorre ao chão.


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Milena Martins Moura: A Orquestra dos Inocentes Condenados (2021)

Milena Martins Moura nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro em 1986. É poeta, editora, tradutora e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Publicou os livros Promessa Vazia (2011, contos), Os Oráculos dos meus Óculos (2014, poesia) e A Orquestra dos Inocentes Condenados (2021, poesia). É editora da revista feminista cassandra e integra as equipes de colunistas da revista Tamarina Literária e de poetas do portal Fazia Poesia. Tem poemas e contos em portais e revistas como Subversa, Torquato, Mallarmargens, Ruído Manifesto, Desvario, toró, Arara, Kuruma’tá, Aboio, Arribação, Totem Pagu, Granuja (México) e Kametsa (Peru).


Os poemas a seguir foram selecionados do livro A Orquestra dos Inocentes Condenados (Primata, 2021), disponível para compra neste link. A obra foi completamente escrita durante a pandemia da Covid-19 como maneira de lidar com a solidão, o luto e o medo.


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a escrita que lambe o chão
sai do escuro
todo fim de ano
natal e finados
porre de vinho
crise alérgica
foto ruim
e divórcio
sai com fome
esperando sacrifício
e soluço
a escrita mambembe
que lambe a ferida
e cura a ressaca
que segura os pés do suicida
ao topo do prédio
volta pro escuro anônima
sem nunca dormir entre os reis

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