Raphael Paiva nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1998. Dedica-se à poesia desde os 14, tendo começado a traduzir aos 17 (inicialmente, apenas poetas anglófonos, como William Butler Yeats e Ezra Pound) a fim de estudar a lírica na intimidade de diferentes línguas e tradições.
Os poemas a seguir foram selecionados do seu livro Cenas da passagem (Primata, 2021), disponível para aquisição neste link.
I
Sou contra a pedra que jaz profunda, etimológica, no adjetivo pétreo.
A pedra, dormente, acrítica,
é de uma paciência sem descanso ao tempo.
A pedra pesa,
a pedra vale,
a pedra sem fim, a pedra finita,
intimidade concreta, substantiva, despida de metafísica – que não a penetra –
opõe-se ao destino de coisa abjeta.
Calada, a pedra dispensa também silêncio,
gravidade, vida, valores.
A pedra, com sua pedagogia ociosa, oprimida,
só me ensinou a atirá-la:
antes, nas horas vagas;
hoje, nas decisivas.
XXII
Sob uns versos de Manoel de Barros
De fato, caracóis são solitários
entre nós,
mas não entre eles,
onde nem eles
nem nós.
XXV
Fio a fio,
como se a consolasse,
como que um rio estreito, esguio,
cose luto; o ralo acolhe. Escorre
as mãos ensaboadas pelo peito, cose
como que a si,
depura-se.
Gosto muito dos poemas que leio aqui.