André Bonfim

André Bonfim é poeta, ator, callejero profissional, vocalista da banda de blues & rock Velhos Abutres & professor de filosofia. Nasceu em agosto de 1984 em Fortaleza-CE. Fez graduação & mestrado em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará – UFC entre os anos de 2003 a 2007. Depois migrou para o sul & em 2013 concluiu um doutorado em Filosofia pela PUCRS, em Porto Alegre-RS. Tem poemas publicados em revistas & sites de poesia & literatura em geral. É tutor de dois gatos & anda a pé.

 

André Bonfim

 
 
O ATACAMA EM MINHA PELE
 
os vales da morte & da lua
os desfiladeros callejeros
& ao longe um vulcão

todos tingem minha retina

tenho milhas carimbadas
em minha identidade velha
que se desfolha como um abacaxi

evoé, calles de san pedro!
peiote nas faces do alemão
com o cérebro em estado de graça
& berrando Lorca aos perritos callejeros

evoé, calles de san pedro!
peiote en las manos da chilena
vendendo cacos de vidro
& suplicando a diós por uma arte da fuga

evoé, calles de san pedro!
gracias por me despertar
de meu sono dogmático
& euclimondriano

(21:30 // 29.09.2016.)

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Armando Freitas Filho: anos 1960 e 1970

Armando Freitas Filho  nasceu em 1940 no Rio de Janeiro e estreou em 1963 com Palavras, editado por conta própria com ajuda do amigo José Guilherme Merquior. Escritor compulsivo, publicou e continua a publicar uma vasta obra poética, marcada pela  ampla imaginação e musicalidade em seus versos singularmente controlados. Dada a extensão e qualidade de seus livros, resolvemos dividi-los em uma série de postagens.

Nesta primeira, selecionamos alguns dos nossos poemas preferidos de seus cinco primeiros trabalhos: Palavra (edição particular, 1963), Dual (edição Práxis, 1966),  Marca registrada (edição Pongetti, 1970), De corpo presente (edição particular, 1975) e À mão livre (1979, Nova Fronteira).

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foto: Cristina Barros Barreto

poemas de Palavra (edição particular, 1963)

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1

No branco
o susto!
da coisa não sendo

lousa louça
giz traçando objeto
sem objeto, gás:

gonzo? ganso?
hesitando entre
a porta e o lago

silente muro
de cal, asfixiado
por um lençol

cai
pedra
de pano
penso.

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Raquel Gaio

Raquel Gaio nasceu e reside na cidade do Rio de Janeiro. É poeta, performer e também utiliza a fotografia para se dizer, pra expressar sua poética. Aprecia a imensidão do voo de um pássaro como também tem fascínio por ruínas e miudezas. Leva uma vida anfíbia.

 

raquel gaio

 

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tenho a noite estilhaçada na jugular
e uma fome que não abandona seu canil.

esta carne permanentemente em queda.

há um pônei desidratado no peito
e uma puta carecendo de abrigo
sou a encarnação de quedas passadas
imploro por perdões e ossos melhores
mas não há céu que me ouça.

tento fotografar meus batimentos cardíacos
para emoldurá-los nas paredes de casa
mas antes mesmo do click
regurgito-os cheios de ontens intactos.

sujo as imagens para vislumbrar a queda.

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Carlos Eduardo Marcos Bonfá

Carlos Eduardo Marcos Bonfá é graduado em Letras, mestre, doutor e pós-doutorando em Estudos Literários pela UNESP. Publicou artigos e textos literários em revistas acadêmicas, especializadas e virtuais, como A Cigarra, Desassossego e Desenredos. É colaborador da revista Mallarmargens e mantém o blog Beleza Intrusa (www.carloseduardobonfa.blogspot.com.br).

 

Carlos Eduardo Marcos Bonfá

 
 

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As folhas das árvores
Transdescendem o ritmo da chuva
Como
continuum cósmico
Tiritando na imanência
De algum olhar.
Silêncios também se incluem,
Empostam sua voz
Para dar sentido
À algaravia,
Antes úmida de saliva
Do que de chuva.
Mas o orvalho tudo confundirá,
E a lágrima tudo restituirá, talvez.
O olhar, algum olhar,
Vaza, teocríptico,
Uma luz serenada.

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Maria Carolina de Bonis: passos ao redor do teu canto (2015)

Maria Carolina De Bonis, São Paulo, nasceu em 20 de dezembro de 1982, estudou literatura e escreve para mudar os caminhos por onde passa ou perder-se em alguns deles. Publicou o livro Passos ao redor do teu canto pela Editora Patuá na Coleção Patuscada (2015), projeto premiado com o ProAC.
 

 

Os seguintes poemas a seguir foram selecionados do livro Passos ao redor do teu canto (Editora Patuá, 2015).

 

MONOTONIA SUBMERSA

Entrar no teatro pelas portas dos fundos
Esperar até que as cortinas se fechem
Sentar-se numa cadeira detrás do palco
Baixar os olhos e soletrar um verso
Heroico com as formas de adeus.

Mas o que queríamos era antes acreditar
Saber que detrás do palco se encenam outro
Espetáculo: vida, suas
Guelras sanguíneas em separações

Entrar pela casa sem que a soleira
Conte-lhe a presença de seu ranger noturno
Os objetos tão presentes querem ser olhados
Pela ausência e ter nome de pertencimento.

A carnadura dos móveis estala
É um estar em si
Que já é de si esse saber
De estar inteiro
Diante de nossa presença

Mas o que queríamos eram seres abissais
Abismos, no corpo
Filamentos imemoriais
Que sem voz estalam

Feito a lenha seca, o fogo da lareira
Essas coisas falam e destravam
Os porões da memória

Ir até a parede de azulejos frios e suspirar
Roucamente sem que fosse você
Que pronunciasse a perda
Antes que os olhos estivessem partidos.

Entrar pela casa como se fosse todo dia.

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