Felipe Turner é artista de múltiplas vertentes expressivas, dedica-se a produção literária, plástica e musical em formas integradas. Foi estudante de História da Arte (Unifesp) e Letras (Usp), sua busca é trazer para a superfície do olhar, através da composição plástica e poética, a dimensão de epifanias que faz da arte uma vivência, tanto sensorial quanto espiritual e transcendente em si. É pesquisador da lingua grega antiga, das medicina da floresta e do taoísmo, estudos dos quais inspiraram o Manifesto Miracionista, ensaio poético sobre as manifestações da cura pela arte. Autor de Sinfonia do Caos (2016) e Caduceu (2019) a poesia é sua via de projeção e reflexão desde cedo.
Os poemas a seguir foram selecionados da obra Caduceu (2019), que pode ser adquirido em: www.felipeturner.com/caduceu
Carlos Cardoso é engenheiro, natural do Rio de Janeiro. Destaque de sua geração, é considerado o representante de uma nova poética no país. Sua produção literária é marcada por uma escrita singular e de dicção própria, o que torna sua obra independente e única. Seu novo livro, “Melancolia” (Editora Record, 2019), tem a apresentação de Antonio Carlos Secchin e a orelha assinada por Heloisa Buarque de Hollanda. E o constante diálogo do poeta com as artes plásticas é estampado na capa do livro, feita pelo pintor e escultor Carlos Vergara. A obra foi eleita a melhor de 2019 na categoria poesia pelos membros da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).
Os poemas a seguir foram selecionados da obra “Melancolia” (Editora Record, 2019).
O ROLAR DA PEDRA
A pedra que percorre o Rio de Janeiro iniciou seu percurso na fonte, pedra na banda podre que se espalha na escuridão com tiros,
bombardeios, sacrifícios, crianças armadas de neblina, tiro no escuro, furo, que do alto do morro ninguém acerta, ninguém vê ou alerta.
A pedra rola pela escadaria, as trincheiras estão por ali, o calabouço já não é refúgio e ser preso faz parte do cenário.
Pedra que vira manchete da revista, pedra que está no pó, no centro do morro, pedra sem horizonte.
Pedra de coca, pedra de crack, pedra na pedra.
É dura essa vida tão curta, criança que já nasce armada, pedra que corre e se esconde vai de um morro a outro como se voar fosse nada.
Pedra no dentro da madrugada?
Madrugada no dentro da pedra?
Pedra que brincar desconhece, pedra em escola não vai, pedra aviãozinho, pedra no asfalto, pedra na Maré, pedra na Rocinha, pedra no Leblon, Pavãozinho?
Rola essa pedra na margem, já que a tangente é nada, essa viagem é curta, abrupta, pedra na jaula jogada.
Anderson Lucarezi (São Paulo, 1987) é escritor, professor e tradutor. Publicou Réquiem (Ed. Patuá, 2012), livro vencedor do Programa Nascente USP 2011, e Constelário (Ed. Patuá, 2016). Como tradutor, dedica-se a trazer para o português as obras de poetas norte-americanos como Hart Crane, Jerome Rothenberg, John Gould Fletcher, entre outros. Faz, atualmente, mestrado em Letras Estrangeiras e Tradução na Universidade de São Paulo.
Os poemas a seguir foram selecionados da obra Constelário (Ed. Patuá, 2016).
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sequer o céu é sincero:
a estrela que cintila não é a estrela que cintila, visto que, na real, imagem antiga.
o escuro que anoitece não é o escuro que anoitece, visto que, de onde vem, já se fez brilho.
iria, eu, de volta, fosse aceito, a um céu do presente em que uma estrela extrapolasse ser mera brasa enganosa: talvez, quem dera, farol (visto que agora é lanterna traseira) de um carro-tempo mais-que-perfeito.
NATÁLIA AGRA é poeta, editora e tradutora. Publicou os livros de poesia De repente a chuva (Corsário-Satã, 2017) e o Megamíni Fotogramas (o silêncio possível) (7Letras, 2019). Publicou, também em 2019, seu primeiro livro infantil Os balões de Nise, na coleção Coco de Roda, da Imprensa Oficial Graciliano Ramos. Edita, ao lado de Fabiano Calixto, Rodrigo Lobo Damasceno e Tiago Guilherme Pinheiro, a revista de poesia Meteöro. Organiza, com Emily Hozokawa, Fabiano Calixto e Tiago Marchesano, a Desvairada – Feira de Poesia de São Paulo, que acontece anualmente na capital paulista. Seu novo livro de poemas Noite de São João será lançado em junho.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Noite de São João (Corsário-Satã, 2020).
NOITE DE SÃO JOÃO
Para Emanuella Helena, que se foi cedo demais (in memoriam)
Yesterday the sky was you And I still feel the same Billy Corgan
permanecemos aqui anestesiados de imenso frio nesta noite de São João
regressamos pela manhã lareira ainda quente aquecida pelo canto da cotovia
muito de nós dois pelos cantos fechados da casa o quarto vazio e seus brinquedos
enquanto você esteve aqui ocupou com pequenas palavras as borboletas
Antonio Aílton (Bacabal – MA, 1968), é poeta, professor, pesquisador da poesia contemporânea. Tem participado nos últimos 30 anos, mais diretamente, do cenário cultural e literário da cidade de São Luís do Maranhão. Doutor em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Livros publicados: Cerzir – livro dos 50 (Poesia, Penalux, 2019), Martelo & flor: horizontes da forma e da experiência na poesia brasileira contemporânea (Tese-ensaio, EDUFMA, 2018), Os dias perambulados e outros tOrtos girassóis (Poesia, Fundação de Cultura do Recife, 2008), Compulsão Agridoce (Poesia, Paco Editorial, 2015), Humanologia do Eterno Empenho (Ensaio sobre a poesia de Nauro Machado, FUNC, 2003), As Habitações do Minotauro (Poesia, FUNC-MA, 2001). Membro da Academia Ludovicensse de Letras, cadeira de Maranhão Sobrinho.
Os poemas a seguir foram selecionados da obra Cerzir – livro dos 50 (Poesia, Penalux, 2019).
A LIÇÃO
O que apreendi da pedra aprendi do pântano com um pouco mais ou menos de meditação Os ventos falam pouco, mas assoviam a sua solvência de séculos, carregando o fardo fátuo das estradas Aprendo dos elementos porque aprendo da viagem que esteve sempre ao meio do caminho no qual ainda estou agora, e que se reajusta no corpo traspassado da almação Um dia basta para o ritmo, números e números não