Laura Navarro: Sinestesia (2019)

Laura Navarro nasceu em São Paulo em 2000, e se interessou pela poesia aos doze anos – e, desde então, nunca mais parou de escrever. Ela já apareceu em coletâneas e vídeos do coletivo Senhoras Obscenas, além de já ter publicado dois livros: Clair de Lune (2016) e Natasha (2018). Atualmente, ela cursa jornalismo na Faculdade Casper Líbero.



Os poemas a seguir foram selecionadas da obra Sinestesia (Editora Primata, 2019), disponível para aquisição neste endereço.




FLANEUR

Olho aos cantos de minha cidade
como se passasse à tempos anteriores
aos meus
e andasse em outros sapatos
cheiro de fuligem que me penetra
a chuva cai lentamente
mudando lentamente
os tons do céu dos prédios dos museus
de absolutamente
tudo
erupção sensorial
de cores dissonantes
que podem ser
tocadas
pelos meus
mocassins

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Laura Navarro

Laura Navarro nasceu em São Paulo em fevereiro de 2000. É fascinada pelos celtas, pelas bonecas russas e, principalmente, pela linguagem, que ela define como “exercício criativo, social e, sobretudo, corporal”. Em 2016, publicou o livro Clair de Lune, pela Editora Patuá.

 

laura navarro

 
 

MATRYOSHKA
 
No dia do meu aniversário
Tu me deste uma dessas bonecas
Que eram várias
Dentro de uma
Como mãe e filha
Como alma e corpo
E, como eu,
tu disseste.

Elas sorriam, elas choravam
ao mesmo tempo
E conforme elas iam ganhando vida
Eu ia apodrecendo
Quem diria,
Uma boneca animando
humanos
Como uma menina brincando
de barbie?

Você sabe, eu guardava
As pétalas das rosas
que eu você me dava
dentro delas
Como se fossem vasos

E eu as carrego comigo
Como uma mãe que carrega
suas filhas
A diferença é que
A mãe é a matrioska, não eu

Aliás, se eu tivesse uma filha
Queria que essa boneca
fosse a parteira
assim como eu
em todos os partos dela
E que o cordão umbilical de minha menina
Fosse guardado dentro dela

E, quando eu morrer
Eu só peço
que a maior delas
seja enterrada comigo
E que coloquem as outras
Ao redor de meu túmulo

 

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