André Nogueira: Notre Dame do Agreste (2020)

Nascido em 1987 na cidade de Herdecke, Alemanha Ocidental. Registrado cidadão brasileiro no Consulado em Munique. No Brasil desde 1991. Vive na cidade de Campinas. Formado em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas e em Literatura e Cultura Russa pela Universidade de São Paulo. Poeta, tradutor. Publicou os livro O presidente me quer morto (Urutau, 2019) e Notre Dame do Agreste (Primata, 2020).





Os poemas a seguir foram selecionados do livro Notre Dame do Agreste (Primata, 2020), disponível para aquisição neste link.




OS INIMIGOS DAS ÁRVORES


Os inimigos das árvores
são inimigos
dos amigos das árvores.
Os inimigos das árvores
são inimigos
também
dos inimigos das árvores.
Porque toda
e cada árvore
é de todo e de cada
amiga.

Os inimigos das árvores
são meus
e de todos
inimigos.
Os inimigos das árvores
são meus
e de si mesmos
inimigos.
Porque as árvores são minhas,
de todo e de cada
e de toda humanidade
amigas.

Os inimigos das árvores
são inimigos
das aves, macacos,
abelhas, formigas.
Porque as árvores são minhas
e de toda humanidade
e toda não-humanidade
amigas.

E de si mesmos inimigos,
porque a sombra de uma árvore
é de todos
e deles também
o abrigo.
Porque as árvores são
amigas de todos,
mas nem todos são delas
amigos.

Quem faz guerra com as árvores
antes faz guerra
consigo.
E a si mesmo,
a si mesmo e a todos
castiga.
Porque a vida do homem é rápida,
efêmera intriga:
é paz
e é guerra,
é amor
e é fome,
e com quê haverá
de encher a barriga?
As árvores dão
aos amigos
igualmente aos não-amigos,
igualmente aos inimigos,
amoras, pitangas,
goiabas e figos.

Porque a vida do homem
é paz
e é guerra,
é amor
e é fome,
efêmera intriga:
e não obstante
ele serra
das árvores todas
a mais verdejante
e antiga.
De frutos
a mais abundante,
de sombras
a mais generosa…
A todas eu amo,
de frutos e sombras,
de paz e amor as frondosas
amigas.


13 de julho 2019

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