Poeta paraense, radicado em São Paulo desde 1972. É reconhecido entre os grandes talentos da Geração de 1970. É autor dos livros de poesia Salve Salve, Arco Vermelho, Os Reis de Abaeté, O Primeiro Inferno e Outros Poemas, Sete (com 25 xilogravuras de Valdir Rocha), Testamentos, Poemas Perversos, O Coração dos Outros, Desnudo e Um homem cantava para cachorros.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Um homem cantava para cachorros (Pantemporâneo, 2022).
MERDAS
E agora, seus merdas? Agora que a caixa de pandora foi partida ao meio e o grande segredo revelado o que me dizem? Agora que as árvores estão tombadas. Agora que os pintores de faixas de rua estão em greve contra os baixos salários. Agora que as águas do Atlântico chegam com extrema violência à praia e arrebentam as calçadas e as barracas dos vendedores de peixe frito e sorvete de framboesa e morango. Agora que a maldita mentira se vê exposta sobre os grandes balcões dos bares o que me dizem? Seus merdas.
Poeta paraense, radicado em São Paulo desde 1972. Sobre Celso de Alencar, o poeta e crítico Claudio Willer, afirma que se trata do mais enfático poeta contemporâneo brasileiro. Escreve com furor messiânico, com a veemência dos profetas. Enquanto, o compositor e poeta, Jorge Mautner, o considera profeta da quarta dimensão, escandalizador e libertador de almas. Já o cineasta Carlos Reichenbach sintetiza: Celso de Alencar é, sem nenhum exagero, um dos maiores poetas brasileiros em atividade. Sua poesia blasfema e despudorada é da estirpe de Pasolini, Rimbaud, Leautréamont, Sousândrade, e todos os nossos malditos maiores. O artista plástico Valdir Rocha é taxativo: loquaz, perverso, mordaz, contundente, imprevisto, surreal, etc., e o poeta e crítico Carlos Felipe Moisés decreta: diabolicamente angelical ou angelicalmente diabólico. É reconhecido entre os grandes talentos da Geração de 1970. É autor dos livros de poesia Salve Salve, Arco Vermelho, Os Reis de Abaeté, O Primeiro Inferno e Outros Poemas, Sete (com 25 xilogravuras de Valdir Rocha), Testamentos, Poemas Perversos, O Coração dos Outros e Desnudo.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Desnudo (Quaisquer, 2018).
CARTA PARA A MINHA MÃE MORTA
Mãe, há uma loucura às vezes. Aqui dentro escuto um som distante de máquinas de serraria. Pela vidraça da porta vejo um velho ventilador prateado se movimentando no quintal. Os galhos das árvores sobem e descem, repletos de passarinhos vermelhos. Uma gigantesca onda de loucura me diz: enforca-te sobre a parede com teu vulto de tontura e fúria. E os homens gordos das suntuosas lojas de perfume se escondem atrás das cercas de madeira, masturbam-se e rastejam pelo capim e choram, riem, mijam e chamam as prostitutas de prostitutas, e fumam e bebem sem uma fala que comova, ou um pequeno discurso de prostituídos ou uma lambida de língua sobre as mãos.
Os outros, os magros, roçam seus pênis esbranquiçados nos encostos das cadeiras do Teatro Público Joseph Morgan e babam como homens inúteis e insignificantes. Eu lhes digo: não cuspam no chão por favor. Há uma criancinha deitada sob seus pés. Então, levemente se aproxima a nuvem fria derramando gelo sobre os velocípedes brancos. E ouço gritos de uma esposa, pálida, pedindo comida no meio da multidão de desempregados domésticos e ambulantes vendedores de sapatos e cintos, masculinos. Então vou à juventude dos anos dos meus antepassados para reconhecer os meus braços e o meu rosto antes que se desmanchem como as nuvens. Mãe, às vezes é tudo tão estranho. Os cobertores da lanifício Ravler Eskle têm me protegido do frio e tenho notado as minhas unhas que crescem como as romaneiras.