Wilson Alves-Bezerra é escritor, tradutor, crítico literário e professor de literatura.
É autor dos seguintes ensaios: Reverberações da fronteira em Horacio Quiroga (Humanitas/FAPESP, 2008) e Da clínica do desejo a sua escrita (Mercado de Letras/FAPESP, 2012); e das seguintes obras literárias: Histórias zoófilas e outras atrocidades (contos, EDUFSCar / Oitava Rima, 2013), Vertigens (poemas em prosa, Iluminuras, 2015, que recebeu o Prêmio Jabuti 2016) e O Pau do Brasil (poemas em prosa, Urutau, 2016).
Atua também como tradutor literário: traduziu autores latino-americanos como Horacio Quiroga (Contos da Selva, Cartas de um caçador, Contos de amor de loucura e de morte, todos pela Iluminuras) e Luis Gusmán (Pele e Osso, Os Outros, Hotel Éden, ambos pela Iluminuras). Sua tradução de Pele e Osso, de Luis Gusmán, foi finalista do Prêmio Jabuti 2010, na categoria Melhor tradução literária espanhol-português.
Como resenhista, atualmente colabora com O Estado de S. Paulo, O Globo e El Universal (México). É doutor em literatura comparada pela UERJ e mestre em literatura hispano-americana pela USP, onde também se graduou. É professor de Departamento de Letras da UFSCar, onde atua na graduação e no mestrado. Foi coordenador de cultura da UFSCar, de 2013 a 2016.
foto: Mariana Ignatios.
Os poemas a seguir foram selecionados do seu livro Vertigens (Iluminuras, 2015).
I.
O oxímoro dos seus seios vejo da fresta do meu
olho esquerdo, enquanto passa a página. Em
qualquer capítulo tateei para lhe saber as carnes.
Mas antes havia bulas, ditados das
professorinhas de redação, silêncio dos beats
preguiçosos, e um acróstico para suas joanetes.
O vento lança guardanapos. Gina mastiga, e eu
lhe sabia mais saborosa que feijoada em lata. Da
letargia de Gina segui adiante, a textura da
encadernação de cobra, seus movimentos, o
tilintar do brinco na minha língua, o fumegar da
cama, o trepidar do fósforo, e o que me faz
transpirar na testa ante o espelho que não vejo,
capítulo três ou capítulo quatro, a pior imagem,
prosseguia Gina, enquanto corrigia a vírgula e
me acentuava, quem foi que guardou a sua perna
que se abria, agora eu abro a página, não tem
figuras este livro tátil. Chega um cidadão assim
de curvado, pesa muito a sua moleira com
galinhas parnasianas da granja. Me oferece um
poema, criado com amor. Gina arrota, seu lábio
toca o dedo que toca o garfo que toca – nisso eu
me viro e vejo. A língua em que foi escrito eu
molho com uma saliva bêbada. Devora um
pouco da minha memória. O poeta necessário
tem um latifúndio produtor de imagens. Torro a
chama do pavio com o dedo, só por precaução.
E eu sempre soube, mas você me retrucava
notas contemporizando. No escuro, linguagem.
Sobretudo seus seios entre o livro. Não fosse a
tatuagem a língua não se excitaria. Peço outra
cerveja.