Registros do evento BRECHA #5, realizado na Associação Cultural Cecília no dia 14/02/2023. Curadoria e Produção: Flora Miguel e Jeanne Callegari. Apresentações: Caetano Romão e Lua Bernardo, Natalia Barros e Siso, Daniel Minchoni e Mari Tavares. Projeções: Guilherme Pinkalsky Apoio: Bernardo Pacheco, Associação Cultural Cecília e Editora Primata.
Author: Primata
Vagner Mun: quasemenos (2020)
Vagner Mun, autor do livro de poemas quasemenos (editora Patuá), é de São Paulo. É organizador dos e-books de poesia e fotografia Essas Águas, Voares e Terrário e tem poemas publicados em diversos portais da internet e em coletâneas impressas. Dedica-se também à fotografia, ao design, à produção audiovisual e ao magistério universitário.

Os poemas a seguir foram selecionados do livro quasemenos (Patuá, 2022).

SERENIDADE
Algo de água no ar
uma suspeita, na pele das coisas
a busca de marcas
em contraluz, de sombras
(a face escura da ínfima gota)
a mão pela janela: o que não se vê
Respira-se água o vento
(vivência primeva de peixe)
Chuva-não
vem.
Jade Luísa: O olho esquerdo da Lua (2021)
Jade Luísa nasceu em Natal (RN) e vive em Brasília. Estuda Letras na UnB, é atriz e escreve dramaturgia para o Coletivo de Teatro Enleio. É autora do livro O olho esquerdo da lua (Penalux, 2021) e integra as antologias As luas: o amor e suas variações (Lumme, 2020) e No meio do fim do mundo (Elã, 2022).

Os poemas a seguir foram selecionados do livro O olho esquerdo da lua (Penalux, 2021).

OLHO DA SUCURI
ao poeta Claudio Daniel
Fogo no centro do corpo
Corpo na ponta da bala
Água na bala do corpo
Bicho na fome do fogo
Corpo na ponta da faca
Fome na água do corpo
Morte no olho do bicho
Bicho na fome do povo.
Juliana Ramos: No coração fosco da cidade (2018)
Juliana Ramos escreve, revisa e traduz. É graduada em Letras (português e francês) pela Universidade de São Paulo e cursou os Programas Formativo e de Aprimoramento em Tradução Literária da Casa Guilherme de Almeida. É autora do livro No coração fosco da cidade (Impressões de Minas, 2018) e integra a antologia Corpo de terra (Quelônio, 2021).

Os poemas a seguir foram selecionados do livro No coração fosco da cidade (Impressões de Minas, 2018).

PONTO DE PARTIDA
caminho por meu bairro como quem viaja
como quem desconhece o que vê
ou esquece o que conhecia
coloco-me no centro de tudo
e passando passo despercebida
sou a caminhante contemplativa
que se deslumbra mas não se adequa
e cada ângulo ou detalhe novo
provocam a memória do que nunca vi
Claudio Daniel: Sete olhos & outros poemas (2022)
Claudio Daniel, pseudônimo de Claudio Alexandre de Barros Teixeira, é poeta, romancista e professor de literatura. Nasceu em 1962, na cidade de São Paulo (SP). Cursou o mestrado e o doutorado em Literatura Portuguesa na Universidade de São Paulo (USP). Realizou o pós-doutoramento em Teoria Literária pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi diretor adjunto da Casa das Rosas, Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, curador de Literatura no Centro Cultural São Paulo e colunista da revista CULT. Atualmente, Claudio Daniel é editor da revista eletrônica de poesia e artes Zunái, do blog Cantar a Pele de Lontra (http://cantarapeledelontra.blogspot.com) e ministra aulas online de criação literária no Laboratório de Criação Poética, curso realizado à distância, via internet. Publicou diversos livros de poesia, ensaio e ficção, entre eles Cadernos bestiais: breviário da tragédia brasileira, Portão 7 e Marabô Obatalá, todos de poesia, o livro de contos Romanceiro de Dona Virgo e o romance Mojubá.

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Sete olhos & outros poemas (Córrego, 2022).

CONVERSA SOBRE O BRASIL COM UM POETA CHINÊS
País tão sombrio –
como um arco-íris
negro;
como um cão
negro
e outros cães,
todos negros;
luz negra,
jade negro, pele negra,
sangue negro,
soldados
brancos e negros
que matam
negros,
uma, duas, três,
até oitenta vezes;
palavras escuras
secam na boca,
costurada;
nenhum pensamento
é possível
aqui,
só o telejornal
zumbi;
Em qual língua
é possível
expressar
este açougue
de carne humana?
Este é o relógio
do medo,
estes são os dez dedos
do medo
Há sobreviventes?
Uma palavra cai, duas,
três palavras, numa tigela
vazia.
Um rato é o nosso rei.
Relâmpago ilumina
flor mínima, no caminho
das antiflores.
2019