Vagner Mun: quasemenos (2020)

Vagner Mun, autor do livro de poemas quasemenos (editora Patuá), é de São Paulo. É organizador dos e-books de poesia e fotografia Essas Águas, Voares e Terrário e tem poemas publicados em diversos portais da internet e em coletâneas impressas. Dedica-se também à fotografia, ao design, à produção audiovisual e ao magistério universitário.


Os poemas a seguir foram selecionados do livro quasemenos (Patuá, 2022).



SERENIDADE


Algo de água no ar
uma suspeita, na pele das coisas

a busca de marcas
em contraluz, de sombras
(a face escura da ínfima gota)
a mão pela janela: o que não se vê

Respira-se água o vento
(vivência primeva de peixe)

Chuva-não
vem.



TERRA, ESSA MULHER


Ora em Bicho (o outro um tal de Eu)
no movimento de abrir
a terra, deitar nela
semente, querer árvore
de nosso plantio

Ora procuro (o outro uma espécie animal)
o semear imaginado, que não se agrava
e não se grava
em nenhum terreno

E no campo
fecundo, uma parte no arado
outra no mato que invade:

Eu ou seja Bicho
entre homens que sou e que fui
e feras que ficam por ferir
plantado nessa carne e cor.


ATO DE FOGO

(para alguém da terra
na sua cor)



Mesmo o bicho talhado em labaredas
deita-se em primeira vez
quando na terra
que arde

Encrespa, geme e crava
em busca de que o fundo – o lugar mais úmido
cure a fome, o fogo que o consome

E é do movimento que erra, de fera
o casar ao acaso seu passo ao do fogo:
o incêndio se faz dentro
por um instante, lento
na dança do abraçar as chamas

No entanto o fogo vence
o bicho grita
escorre e morre
fincado
na terra.



Primata

2 Comments

  1. …ora talhado em terra ou figo, respira-se água em vento,
    essa fera, esse Bicho, em nossa Terra, essa Grande Mãe… 👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾

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