Mariana Varela: Tempestade musicada (2018)

Mariana Varela lançou, com 26 anos, seu primeiro livro de poemas pela Editora Primata, intitulado Tempestade Musicada. Os seus poemas constelam viagens e labirintos filosóficos bem musicados, atravessando com emoção e revolta questões existenciais e concretas da experiência feminina nas cidades e no mundo contemporâneo.


Os poemas a seguir foram selecionados do livro Tempestade musicada (Editora Primata, 2018)



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ROTINEIRA CONTRADIÇÃO


Cheia de arte
de palavras
cheia de rimas
de conexões lógicas impróprias

Cheia de vida
cheia de raiva
cheia de fome
cheia de vôo
cheia de rios, lotada de sonhos
e ilusões

(a liberdade na terra se esconde
e a felicidade se torna
a tranquilidade vazia
da repetição)

Estou farta, porque tranquila
estou cheia, porque ausência
liberta, porque aprisionada

E fracassada porque nasci
na selvagem vida dos homens
e sou fêmea, que carinho

– Eu estou cheia
porque a vida

Vazia


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Marcelo Torres: Poemas tímidos e gelatinosos (2019)

Marcelo Torres nasceu em Pernambuco na cidade de Palmares no ano de 1984. Reside em São Paulo na região do ABCD. Publicou Vertigem de Telhados, nadar em cima da rua, ambos livros de poemas editados em 2015 pela Kazuá. Em 2017 lançou Páthos de Fecundação e Silêncio livro de poemas editado pela Patuá. O autor ainda tem poemas publicados em antologias pelo Brasil, em revistas de literatura e cultura.



Os poema a seguir foram selecionados do livro Poemas tímidos e gelatinosos (Patuá, 2019)



SUPERMERCADOS SEM VENTO


Regulem direito a temperatura
os oceanos serão abocanhados
por peixes de inox
troca o dedo
para ter limite na direção
que tem estrangulado o azul
véu comestível
ferido
em costelas cheias
de trovoadas
percussivas
os bichos são hipnotizados
e
rastejo fazendo crescer seu nome
dentro da malícia
há uma criança tecida
pela técnica quase robótica
outra grudada a escravidão da foice
e
invernos
cheios de togas infernais
reivindicações
de um mundo
sem instintos
azafamado por humanas prateleiras

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Camila Assad: eu não consigo parar de morrer (2019)

Camila Assad nasceu em Presidente Prudente (SP) em 1988. É autora de Cumulonimbus (Quintal Edições, 2017), eu não consigo parar de morrer (Editora Urutau, 2019) e foi contemplada pelo ProAC/SP com a obra Desterro, a ser lançada na FLIP pelas Edições Macondo.




Os poemas a seguir foram selecionados do livro eu não consigo parar de morrer (Editora Urutau, 2019)




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Eu moro nos atrasos

e por isso ninguém nunca

                      me encontra

Eu me exilo no bolso

rasgado do teu terno azul

– aquele reservado para os

velórios dos parentes distantes

Eu sou minúscula

por vezes

  invisível

Eu moro na poeira

oculta dos idiomas

                  extintos

Eu submerjo das águas

da fonte central

da cidadela de

três mil membros

– dizimada há

mais de meio século

Quando fito o espelho

nem me percebo

sou maleável, sou

um elástico de cabelo

desses que se perde um por dia

                                        por aí


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Roberto Piva: 20 Poemas com Brócoli (1981)

Roberto Piva (1937-210) é autor da plaquete Ode a Fernando Pessoa (Massao Ohno, 1961) e dos livros Paranóia (Massao Ohno, 1963), Piazzas (Massao Ohno, 1964), Abra os olhos e diga ah! (Massao Ohno, 1975), Coxas (Feira de Poesia, 1979), 20 Poemas com Brócoli ((Massao Ohno, 1981), Quizumba (Global, 1983) e Ciclones (Nankin, 1997), reunidos em três volumes pela editora Globo, sendo o último – Estranhos Sinais de Saturno – acompanhado de poemas inéditos. Marcada pelo experimentalismo, múltiplos diálogos e alta qualidade das imagens poéticas, sua obra é uma das mais intensas da poesia brasileira contemporânea.




Os poemas a seguir foram selecionados de 20 Poemas com Brócoli ((Massao Ohno, 1981), quinto livro do poeta. Confira as postagems sobre suas outras obras neste endereço.



VI

o cacique tomava chá com seu corpo pintado.
                        o pajé dançava com a casca do
                                   gambá.
                        você brincava com meu caralho.
                                   Macunaíma & Alice no país da
                                                          Cobra Grande.
                                      mesma estrutura narra-ação &
                                                      barroco elétrico pinçando
                                                         estilhaços de visões.
                                           palmeiras de cobre.
                                                         meu cu como bandeira
                                            do navio pirata.
                                                a lua começa a cantar.


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Carlos Orfeu: Nervura (2019)

Carlos Orfeu, nasceu em Queimados. É devoto das artes, sobretudo, da literatura e poesia. Publica em blogs pessoais, revistas e blogs literários. O poeta em 2017 lançou o livro invisíveis cotidianos pela editora Literacidade.

foto: Pierre Crapez

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Nervura (Patuá, 2019).




FERIDAS

I

a boca do sol abre as vísceras da manhã
feridas abrem o pulmão do pássaro
do sangue nutrido na fome
floresce a árvore com suas cabeças

saudando a tudo que nasce e morre


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