Annita Costa Malufe: Quando não estou por perto (2012)

Annita Costa Malufe (São Paulo, 1975) é autora dos livros de poemas Fundos para dias de chuva (7Letras, 2004), Nesta cidade e abaixo de teus olhos (7Letras, 2007), Como se caísse devagar (Ed.34/PAC, 2008), Quando não estou por perto (7Letras/Petrobras, 2012) e Um caderno para coisas práticas (7Letras, 2016). É doutora em Teoria e História Literária pela Unicamp e publicou os ensaios Territórios dispersos: a poética de Ana Cristina Cesar (Annablume/Fapesp, 2006) e Poéticas da imanência: Ana Cristina Cesar e Marcos Siscar (7Letras/Fapesp, 2011). Atualmente, é professora da pós-graduação (mestrado/doutorado) em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Quando não estou por perto (7Letras/Petrobras, 2012).

 

 

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o dia terminando
numa batida monótona
som monótono de uma
britadeira som de uma voz
que repete não estou entendendo
o que você quer dizer com
isso a vontade encontrar uma
frase que resuma todas as
imagens todas as
cenas que se acumulam ao
redor luzes que
descem por detrás de um
prédio imaginário

 

 

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Donny Correia: Zero nas veias (2015)

Donny Correia, poeta e cineasta, é mestre e doutorando em Estética e História da Arte pela USP e bacharel em Letras – tradutor e intérprete pelo Centro Universitário Ibero-Americano (Unibero). Realizou os curtas experimentais Anatomy of decay, Braineraser, Totem, este selecionado para a 34ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e Prêmio Canal Brasil, e In carcere et vinculis. Publicou os livros de poesia O eco do espelho (2005), Balletmanco (2009) e Corpocárcere (2013) e Zero nas veias (2015), além de ter organizado, junto com Marcelo Tápia a antologia Cinematographos de Guilherme de Almeida, para a Editora Unesp (2012). É coordenador de programação da Casa Guilherme de Almeida.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Zero nas veias (Patuá, 2015).

 

 

O PORÃO DAS CÉLUAS

 

para joão correia
para valdomiro boldrini
 

uma fila na farmácia pública:
um exército
de células vencidas se conforma

são semblantes e semblantes alquebrados
desprovidos e calados
nulos, retorcidos

imerso na inércia
à espera de uma senha

há uma espera que se sustenta
maior do que o tempo que lhes cabe
/ainda/

os tubos, as sondas, o pus
os desmaios
a vida se esvai
a vida /ex/ vai
no rebanho semimorto
na farmácia pública

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Orides Fontela: Transposição (1969)

Orides Fontela, uma das mais importantes poetas contemporâneas brasileiras, nasceu em São João da Boa Vista (SP) no ano de 1940 e faleceu em Campos de Jordão (SP) em 1998. Mudou-se em 1967 para a capital paulista, onde cursou filosofia na Universidade de São Paulo. É autora dos livros de poesia Transposição (Instituto de Espanhol da USP, 1969), Helianto (Duas Cidades, 1973), Alba (Roswitha Kempf, 1983), Rosácea (Roswitha Kempf, 1986) e  Teia (Marco Zero, 1996). Sua obra foi reunida em 2015 pela editora Hedra, acrescida de poemas inéditos.

 


foto: Inêz Guerreiro

 

Os poemas a seguir foram selecionados do seu primeiro livro Transposição (Instituto de Espanhol da USP, 1969), cuja edição foi coorganizada por Davi Arrigucci Jr., amigo e conterrâneo da autora.

 

 

 

ARABESCO

 

A geometria em mosaico
cria o texto labirinto
intrincadíssimos caminhos
complexidades nítidas.

A geometria em florido
plano de minúcias vivas
a geometria toda em fuga
e o texto como em primavera.

A ordem transpondo-se em beleza
além dos planos no infinito
e o texto pleno indecifrado
em mosaico flor ardendo.

O caos domado em plenitude
                                                 a primavera.

 

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Greta Benitez: Canção Antiqüe (2013)

Greta Benitez, autora do livro Canção Antiqüe, nasceu em Curitiba, no ano de 1971. Cresceu abençoada por intensos invernos, o que a fortaleceu para procurar o encontro com as palavras. Lançou Rosas Embutidas (Edição do Autor, 1999) e Café Expresso Blackbird (Landy, 2006). Foi publicada em revistas como Oroboro, Et Cetera e Continuum (Itaú Cultural). Também está em edições eletrônicas como Zunái, Germina e Escritoras Suicidas. Recebeu diversos prêmios em vários estados do Brasil e participa da antologia Todo Começo é Involuntário – A poesia brasileira no início do século 21 (Lumme, 2010), organizada por Claudio Daniel.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Canção Antiqüe (Patuá, 2013).

 

 

89

 

Sou tão velha que meus amantes já são nomes de ruas
Sou tão velha que minhas vontades já estão nuas
Sou tão velha que minhas verdades já são as suas.

Eu sou do tempo em que se fumava no cinema.

Sou tão velha que minha voz agora é boa para ler um poema.

Sou livre:
Posso fazer o que quiser que ninguém liga.

Parte de mim
Mora numa foto antiga.

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Roberto Piva: Paranóia (1963)

Roberto Piva (1937-210) é autor da plaquete Ode a Fernando Pessoa (Massao Ohno, 1961) e dos livros Paranóia (Massao Ohno, 1963), Piazzas (Massao Ohno, 1964), Abra os olhos e diga ah! (Massao Ohno, 1975), Coxas (Feira de Poesia, 1979), 20 Poemas com Brócoli ((Massao Ohno, 1981), Quizumba (Global, 1983) e Ciclones (Nankin, 1997), reunidos em três volumes pela editora Globo, sendo o último – Estranhos Sinais de Saturno – acompanhado de poemas inéditos. Marcada pelo experimentalismo, múltiplos diálogos e alta qualidade das imagens poéticas, sua obra é uma das mais intensas da poesia brasileira contemporânea.

 


foto: Wesley Duke Lee

 

Os poemas a seguir foram selecionados de Paranóia (Massao Ohno, 1963), seu livro de estreia.

 

 
 
 

PARANÓIA EM ASTRAKAN

 

Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci
         onde anjos surdos percorrem as madrugas e tingindo seus olhos com
                  lágrimas invulneráveis
         onde crianças católicas oferecem limões aos pequenos paquidermes
                  que saem escondidos das tocas
         onde adolescentes maravilhosos fecham seus cérebros para os telhados
                  estéreis e incendeiam internatos
          onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos furiosos puxam
                  a descarga sobre o mundo
          onde um anjo de fogo ilumina os cemitérios em festa e a noite caminha
                  no seu hálito
          onde o sono de verão me tomou por louco e decapitei o Outono de sua
                  última janela
          onde o nosso desprezo fez nascer uma lua inesperada no horizonte
                  branco
          onde um espaço de mãos vermelhas ilumina aquela fotografia de peixe
                  escurecendo a página
          onde borboletas de zinco devoram as góticas hemorroidas
                  das beatas
          onde as cartas reclamam drinks de emergência para lindos tornozelos
                  arranhados
          onde os mortos se fixam na noite e uivam por um punhado de fracas
                  penas
          onde a cabeça é uma bola digerindo os aquários desordenados da
                  imaginação

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