Pedro Torreão (1988) é recifense, sociólogo e poeta. Mora em São Paulo desde 2017. Estreou com Pão Só (Editora Urutau, 2021), pelo qual recebeu menção honrosa no Prêmio Maraã de 2019. Alalázô (Editora Aboio, 2022) é seu segundo livro de poemas. Tem poemas publicados em revistas como Aboio, Ruído Manifesto, Lavoura, entre outros.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Alalázô (Editora Aboio, 2023), em pré-venda neste endereço.
REFEIÇÃO
Cortar unhas no terraço
não espalha meus pedaços pela casa.
Carrego o urro, ruo e roo
pedaço a pedaço
na sala de estar.
LÁCIO
A mordedura fala
por cada dente
amolece língua
bochecha e céu
da boca tocam
um arco teso:
coliseu que ecoa
rugidos cruéis.
TODO ARSENAL
Um arsenal de pernas
tesas como ponte que mergulham equilíbrio
abrem bocas fecham lábios destroçam
envenenam baço
no passo das pernas ocas zambetas
cangaias convexas
positivo o pé que arqueia passo
negativo o chão que aguenta o traço
que risca a língua pra fora
espaço da tesoura
a boca anseia a tua, teu confete
serpentina voa
tua saia colorida teu nanquim nos olhos
a boca marrom, claro
escuro embaraço o álcool sai
no bafo
e sinto língua e visco cisco
que cai no olho arranhando o contato
que faço
entre meus olhos e teus dentes
bonitos, por acaso.
CASEOS
As amígdalas sussurram e caem em si
parem nós das cordas vocais
nós sofremos, nós sofrem – diriam elas
enquanto vertem suspiros que pingam
enquanto urro e aproximo os dedos na garganta
são cavernas na boca
grutas palatáveis
tocas que travam
enfim, pelos poros, povoo uma boca fenda fiorde sentença
água passa e vem
são canos que jorram
canais que transportam
foz que transborda voz enquanto tusso
barulho e mergulho no cós
do teu esôfago.