Jeanine Will: Caminhão de mudança (2017)

Jeanine  Will, humana amadora desde 1975, poeta, tradutora. Nasceu em Santa Catarina e vive em São Paulo. Evadida dos cursos de letras português, artes cênicas, comércio exterior e letras alemão e do cursinho para medicina. Formada em tradução e interpretação inglês/português pela Unibero.
Desde 2006, mantém consigo uma oficina permanente de criação poética no blog http://www.caminhaodemudanca.blogspot.com. Lá publica seus poemas, fotopoemas, videopoemas, qualquer-coisa-poema e desenhos. Contato: [email protected].

 


foto: Lilli Ferreira.

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Caminhão de mudança (Córrego, 2017).

 

 

ABAJUR

 

a nave da noite pousa na terra
vermelhos queimam velozes
os olhos da cidade devoram arrazoados

deixa tua máscara de lado
mergulha no azul deste quarto
queima teus lábios na ponta dos meus dedos
arranha tuas mãos nas minhas palavras
deita teu ouvido sobre este sussuro
pisa de leve na pista
abre teu zíper até a angustura
dança de costas pro abismo

as sombras são apenas sóis introspectivos

 

 

DESEJO NOIR

 

vai-se o dia retocando a escultura da tarde

entre a cortina de fumaça que ondula
ao sabor das (res)pirações
e olhares que se cruzam

nossas bocas são barcos ainda ancorados
às margens de nossas palpitações

 

 

CONTINUAÇÃO  DA NOITE SEM VOCÊ

 

num curto espaço
nos encontramos
ao longo do vento
nos advinhamos
em sílabas ainda
o mundo soletrado
com calma e cuidado

mas a haste do tempo entorta
e nos percebemos frágeis
seres de mãos duras demais
o mundo gira torto
em torno do meu pescoço
no meu corpo, no seu corpo: arestas
e agora esse silêncio que não presta

 

 

DESARRUMAÇÕES DO DIA

 

o que nos prende
o que de nós pende
o que dá sentido
aos olhos grudados no teto
aos objetos perdidos
às horas quebradas
aos intervalos sem palavras
mas cheios de afeto?

 

 

 

Primata

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