José Morais Antunes de Sousa (Ilhéus, 1987) é mestre em Geografia pela Universidade de Catania. Hermès I-IV (Primata, 2021) é seu primeiro livro publicado.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Hermès I-IV (Primata, 2021), disponível para aquisição neste endereço.
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Cheguei em casa e encontrei minha janela cheia de joaninhas; todas mortas. Algumas ressecaram até diminuir de tamanho adentrando ainda mais nas frestas da madeira. Nunca pensei que tivesse como janela um cemitério de joaninhas. Não sei a quem eu escrevo. Mas não há problema porque escrevo para todos. Tenho todos em mim.
A artista visual tem um percurso que alinha diferentes materiais, procedimentos e linguagens — de instalações a desenhos, de fotografias a gravuras. Pesquisadora e educadora, é autora de vários livros teóricos e ensaísticos de referência para Arte e Educação. Seu primeiro livro de poesia, A pesar, a pedra, foi lançado em 2018 e da língua e dos dentes é o seu segundo livro de poemas, lançado no final de 2020 pela Editora Urutau. Atualmente Edith coordena a pós-graduação Caminhada como Método para Arte e Educação na A Casa Tombada.
Os poemas a seguir foram selecionados da obra da língua e dos dentes (Urutau, 2020), com orelha de Agnaldo Farias, apresentação de Natalia Barros e posfácio Marcílio Godoi.
SILÊNCIO
algumas outras palavras vem do choque sentenciam uma onda sem água esfarelada no ar onda bate em algo de nada em nada tão fácil não tão fácil um silêncio
nuvem carrega saturno chuva chove olho cimentado de suor nuvem carregada de chuva nem vento dissipa silêncio assim um silêncio
pedra opaca sem lugar definido pedra comove uma espécie de dentro pedra muda nem sai do ponto elegância discreta aparece parece vulto vem por trás e corrói e afirma quando assim é assim um silêncio
tempestade de ar e areia e água de grão em grão, mil grãos chapiscam na pele na sombra na sobra dia horário lugar estreiteza que alarga líquido que não se contém esparrama pelas bordas e margens em desvios um silêncio
sol na sombra e a falésia cai fim de dia meio de tarde sol na altura da falésia a penumbra assombra traça na terra a graça de uma sombra caixa preta a céu aberto luz veloz no limite da lâmina solar inventa falésia parada cortada em viés contorno sombrio lúcido cravado nos grãos de areia deserto-praia vira mar virá e verá abafa som e timbra olho sobra linha de horizonte em acordes um silêncio
Tomaz Amorim Izabel (1988) é natural de Poá/SP. É pós-doutorando em Teoria Literária na Unicamp. Escreve sobre política e cultura na Revista Fórum e faz crítica literária no Jornal Rascunho. Já publicou traduções de Walt Whitman e Franz Kafka. É editor do coletivo de traduções literárias Ponto virgulina. Já publicou poemas em diversas revistas virtuais. Em 2018, publicou seu primeiro livro, Plástico pluma, pela editora Urutau. Tem em seu currículo de “fechados”: Contra: Hard Corps, Mortal Kombat II, Altered Beast e, mais recentemente, Cuphead. Chegou ao elo Diamante no Paladins.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro meia lua soco (Editora Primata, 2020), disponível para aquisição neste link.
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o buraco negro no centro da galáxia é invisível incapturável infotografável apesar do halo do ralo
em seu emaranhado crespo em seu rumor surdo não é possível que seja porta de saída mas de entrada para dobras falas por lábios de outros universos
Orides Fontela nasceu em São João da Boa Vista (SP) no ano de 1940 e faleceu em Campos de Jordão (SP) em 1998. Mudou-se em 1967 para a capital paulista, onde cursou filosofia na Universidade de São Paulo. É autora dos livros de poesia Transposição (Instituto de Espanhol da USP, 1969), Helianto (Duas Cidades, 1973), Alba (Roswitha Kempf, 1983), Rosácea (Roswitha Kempf, 1986) e Teia (Marco Zero, 1996). Sua obra foi reunida em 2015 pela editora Hedra, acrescida de poemas inéditos.
Os poemas a seguir foram selecionados do seu livro Teia (Marco Zero, 1996). Confira a postagem sobre suas outras obras neste endereço.
Rogério Skylab é uma das figuras mais expressivas do cenário alternativo brasileiro. Carioca, é conhecido principalmente por suas composições, distribuídas numa extensa discografia, iniciada com Fora da Grei (1992). A maior parte dos seus registros musicais é conceitualmente arranjada em séries: Série dos Skylabs (I a X), Trilogia dos Carnavais, Trilogia Skylab & Tragtenberg, Trilogia do Cu e Trilogia do Cosmos – sua produção mais recente e ainda não completamente lançada.
foto por: Solange Venturi
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Debaixo das rodas de um automóvel, lançado em 2006 pela Editora Rocco, e reeditado pela Kotter Editorial em 2020.
VITRINES DE DOMINGO
Moro entre coisas efêmeras num quarto de pensão impossível. Ontem cedo matei dois ratos. Aí está minha metafísica.
Sou um poeta errado. Consumi muito de minha vida deitado na cama e me masturbando. Escrevo só para fazer de conta que vivi.
Olho pela janela do quarto as vitrines fechadas da cidade. Amanhã estarão repletas de luzes,
mas hoje adormecem como se ninguém as visse. E mostram-se taciturnas, absurdas, essas vitrines de domingo que eu olho tanto.