Orides Fontela: Helianto (1973)

Orides Fontela, uma das mais importantes poetas contemporâneas brasileiras, nasceu em São João da Boa Vista (SP) no ano de 1940 e faleceu em Campos de Jordão (SP) em 1998. Mudou-se em 1967 para a capital paulista, onde cursou filosofia na Universidade de São Paulo. É autora dos livros de poesia Transposição (Instituto de Espanhol da USP, 1969), Helianto (Duas Cidades, 1973), Alba (Roswitha Kempf, 1983), Rosácea (Roswitha Kempf, 1986) e  Teia (Marco Zero, 1996). Sua obra foi reunida em 2015 pela editora Hedra, acrescida de poemas inéditos.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do seu segundo livro Helianto (Duas Cidades, 1973). Confira a postagem sobre sua primeira obra neste endereço.

 

 

HELIANTO

 

Cânon
da flor completa
metro / valência / rito
da flor
verbo

Círculo
exemplar de helianto
flor e
mito

ciclo
do complexo espelho
flor e
ritmo

cânon
da luz perfeita
capturada fixa
na flor
verbo.

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Sergio Cohn: Um contraprograma (2016)

Sergio Cohn nasceu em São Paulo, em 1974, e mora desde 2000 no Rio de Janeiro. Criou a revista de poesia Azougue em 1994 e em 2001 a Azougue Editorial. É autor dos livros de poesia Lábio dos Afogados (Nankin, 1999), Horizonte de eventos (Azougue, 2002), O sonhador insone (Azougue, 2006), O sonhador insone – poesia 1994-2012 (Azougue, 2012), Esse tempo (7Letras, 2015) e Um contraprograma (Patuá, 2016).

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Um contraprograma (Patuá, 2016).

 

 

 

UM POEMA PARA ESTES TEMPOS

 

(começando com um verso de Jodorowsky)

 

se estamos perdidos
melhor não andarmos tão depressa
para não sermos presas
dos próprios passos
melhor o silêncio, observar
a estratégia de quem já
conhece esses espaços:
pássaros onças outros
olhares de soslaio
sabendo que alimento e que veneno
nos espera na beira desse descaminho
não há mais nenhum Virgílio
para nos guiar
mas veja: nada aqui é novo
nem mesmo labirinto
e nunca estivemos realmente sozinhos.

 

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Lubi Prates

Lubi Prates é poeta, editora e tradutora. Tem dois livros publicados, coração na boca (2012 / 2016) e triz (2016), além de diversas participações em antologias nacionais e internacionais. Participou da organização da GOLPE: antologia-manifesto (2016), um grito de diversos artistas contra o golpe político que sofreríamos no Brasil. É sócia-fundadora e editora da nosotros, e editora da revista literária Parênteses.

 

 

Os poemas a seguir são inéditos.

 

 

PARA ESTE PAÍS

 

para este país
eu traria

os documentos que me tornam gente
os documentos que comprovam: eu existo
parece bobagem, mas aqui
eu ainda não tenho esta certeza: existo.

para este país
eu traria

meu diploma os livros que eu li
minha caixa de fotografias
meus aparelhos eletrônico
s
minhas melhores calcinhas



para este país
eu traria
meu corpo

para este país
eu traria todas essas coisas
& mais, mas



não me permitiram malas

: o espaço era pequeno demais

aquele navio poderia afundar


aquele avião poderia partir-se



com o peso que tem uma vida.

para este país
eu trouxe

a cor da minha pele
meu cabelo crespo
meu idioma          materno
minhas comidas preferidas
na memória da minha língua

para este país
eu trouxe

meus orixás
sobre a minha cabeça
toda minha árvore genealógica
antepassados, as raízes

para este país
eu trouxe todas essas coisas
& mais

: ninguém notou,
 mas minha bagagem pesa tanto.

 

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Diogo Luiz Yamanishi: nenhum reino (2017)

Diogo Luiz Yamanishi é poeta e mora em São Paulo desde 1992. Não concluiu a graduação em letras. Também trabalha com produção de cadernos & livros artesanais. Seu primeiro livro de poesia, nenhum reino, foi publicado em julho de 2017 pela editora Vindouros. Contatos: facebook / [email protected].

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro nenhum reino (vindouros 2017), disponível para compra neste endereço.

 

 

 

NENHUM REINO

 

ruas vazias:
vácuo e vento

da cidade
da cabeça:

rentes
indícios de tempo

papéis amassados voando
pelos meios-fios do centro

alta-tensão
concentração

símbolos no peito

exatidão –
desconhecida – cada palavra

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Hilda Hilst: Anos 1950

Hilda Hilst nasceu em Jaú (SP) em 1930 e faleceu em Campinas (SP) em 2004.  Uma das mais importantes escritoras brasileiras do século XX,  publicou vasta e versátil obra nos gêneros da poesia, da ficção, da crônica e da dramaturgia.

 

 

Realizaremos um breve panorama de sua trajetória poética, dividido em 5 postagens. Nesta primeira, selecionamos poemas de seus livros publicados na década de 1950: Presságio (Revista dos Tribunais, 1950), Balada de Alzira (Edições Alarico, 1951), Balada do festival (Jornal de Letras, 1955) e Roteiro do silêncio (Anhambi, 1959).

 

Presságio (Revista dos Tribunais, 1950)

 

 

II

 

Me mataria em março
se te assemelhasses
às cousas perecíveis.
Mas não. Foste quase exato:
doçura, mansidão, amor, amigo.

Me mataria em março
se não fosse a saudade de ti
e a incerteza de descanso.
Se só eu sobrevivesse quase nula,
inerte como o silêncio:
o verdadeiro silêncio de catedral vazia,
sem santo, sem altar. Só eu mesma.

E se não fosse verão,
e se não fosse o medo da sombra,
e o medo da campa na escuridão,
o medo de que por sobre mim
surgissem plantas e enterrassem
suas raízes nos meus dedos.

Me mataria em março
se o medo fosse amor.
Se março, junho.

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