Carina Carvalho nasceu em 1989, em São Paulo. É autora do livro de poemas Marambaia (Editora Patuá, 2013), da plaquete Passiflora (edição da autora, 2017) e do livro Corpo clareira (Editora Feminas, 2019), recém-lançado. Tem textos publicados em algumas revistas digitais e impressas. Em <clcarina.wordpress.com> é possível acompanhar um pouco desses caminhos.

Os poemas a seguir foram selecionados da obra Corpo clareira (Editora Feminas, 2019).

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 relance de olho miúdo não pega descanso 
em ponto cego. só reluz minúcia diária:
 – quantos brincos a gente tem na cara… 
e quantas vezes você pisca nas semanas mais terríveis? 
ou então falamos de lentes. das que botam o mundo 
como um borrão pra dentro do bolso 
no mais,
se é furo em mucosa, miopia ou inchaço, 
isto é o corpo diariamente modificado 
olhos que sofrem cores
e marcas mais rosadas que os pequenos lábios 
CLIMATOLOGIA
saber do outro que é frágil, como uma plantinha frágil 
a tua cara na janela, bonita feito uma jabuticaba bonita 
é difícil a manutenção de estar vivo, assim em relação ao tempo
sob o sol é corpo que se expande, os gestos nascendo como queriam 
já cinza de céu é sugestão de bicho em concha. a carne de si pra si 
— vê qual a máxima pra hoje. 
me certifico de que você ainda respira, mesmo com a quentura: 
o cenho, o tronco, as tuas pernas morenas
tudo são movimentos que não mais domino
(nunca cheguei mesmo perto de pedras preciosas) 
quando a estação muda diz do outro, tão frágil
eu pendurada na janela, ao lado de plantinhas vivas e bonitas 
feito uma jabuticaba bonita 
MANHÃ DIA 13
não derrubei louça ou qualquer vidro
quando vi um enorme elefante cinza
sentado na mesa de centro
atravessei a sala como de costume, pisando em ovos 
e por falar em coisas quebradiças, sei que
fevereiro hoje se diz com a boca esvaziada de glitter 
embora sem data você escolha as mais caricatas máscaras
pra apontar bichos pesados pulando janela adentro, fazendo samba 
e alguns bichinhos peçonhentos quando eu pensava a casa já limpa 
aprendendo malabarismos, desvio de toda sorte de tensão, 
essas coisas que pairam nos espaços em que não caibo
já que o elefante, bem quietinho, só me olha de soslaio 

Lindos poemas. Parabéns!